Cem dias de solidão
Cem dias, enclausurado no meu eu.
Cem dias, afastado fisicamente de amigos, familiares e vizinhos .
Cem dias dedicados a mim, de mim para mim mesma.
Cem dias de comer, beber, amar e rezar.
Precisei apenas de cem dias para descobrir que Poder nem sempre significa “ eu posso”!
Em cem dias constatei que para o conforto dos pés, seria necessário apenas um chinelo surrado e não uma sandália com pedrinhas reluzentes.
Em cem dias, conheci cada cantinho da minha casa e percebi que ela é mais do que suficiente para viver.
Em cem dias, aprendi a preciosidade de olhar da janela e observar o tempo passando de forma acelerada. Quantas vezes reclamei a demora da sexta feira! Ignorava o fato de que ela sempre chega no tempo certo.
Foi também em cem dias de solidão que descobri que cada dia vivido, é um dia a menos e não um dia a mais!
Em cem dias conheci de fato, a verdadeira identidade do(a) meu (minha) companheiro(a) de anos de convivência.
Em cem dias descobri o prazer de fazer a minha própria comida.
Em cem dias também descobri o significado de: “básico para sobrevivência “ e que o abraço faz parte desse kit.
Precisei de cem dias para constatar que vivi anos de forma fútil, ostentei supérfluos e adquiri vícios evitáveis.
Cem dias resume uma vida inteira.
Em cem dias de solidão, tive oportunidade de olhar o meu Eu e fiquei assustado com o que descobri.
Cem dias de solidão, foram necessários para descobrir que nunca fui “normal”,
e fundamentais para me encontrar dentro do meu próprio Eu.
Cem dias de solidão, cem dias de Pandemia, o tempo para entender o meu, o seu, o nosso, Tempo.