O olhar de um poeta
Quando criança, no antigo ensino primário, ao iniciar as primeiras leituras poéticas, quase sempre eu me perguntava:
- Como será o olhar de um poeta? Ou seja: - Como um poeta ver o mundo? Como ele percebe a realidade? O que é mesmo estar vendo o cotidiano através de uma lente poética?
O tempo passou e eu nem me dava conta dessas questões, quando eu já me tornara funcionário público e envolvido com as obrigações rotineiras que me ocupavam todo o tempo. Até que um dia fui pego de surpresa, ao ser interrogado por um colega de trabalho:
- Você que ler e admira os poetas, me responda uma coisa! Como um poeta ver a realidade do mundo? Entendo que não deve ser igual a nós outros. Ele deve ter uma lente diferente, não é mesmo?
Subitamente, lembrei dos meus primeiros estudos sobre poesia e os poetas, lá no primário, e nada respondi.
Apenas peguei um pedaço de papel e uma caneta. Abri a janela e, olhando para o movimento da rua, recomecei a escrever, proseando pelos versos do cotidiano, e não mais parei.