Os Primos que tive

Eu sempre fui famoso pelas minhas traquinagens, Papai que o diga, muitas destas foram assunto de suas crônicas, para meu orgulho, mas nem de perto poderia ser comparado ao querido primo Atanázio. Algumas eu tive oportunidade de acompanhar.

A mais distante que eu acho na minha memória foi uma passagem que a nossa querida Tia Jacira não gostaria de lembrar.

Acontece que o Atanásio tinha uma moto e em uma de suas aventuras em Araraquara ele sofreu um acidente seriíssimo, ele saiu voando com a moto sobre um pontilhão, próximo de onde é hoje a Rodoviária da cidade.

Eu estava na casa da Tia Jacira quando ela recebeu a notícia. Dava pena de ver a aflição da Tia Jacira.

Não me lembro do saldo final desta aventura, mas o que interessa é que o Atanázio passou por esta e por muitas outras para felicidade de todos.

Não sei se com esta mesma moto ou com outra, para surpresa de todos ele apareceu em Jaú com mais dois motoqueiros que ninguém conhecia. Veio de Araraquara a Jaú para fazer uma surpresa. Nesta época da nossa vida, era totalmente incomum na nossa família receber visita de pessoas estranhas, mesmo que acompanhadas do Atanázio, e era motivo de grande preocupação para a mamãe que já estava com o almoço na mesa.

Por outro lado, para nós crianças era um evento para ser curtido e assunto para vários dias e ficaria na nossa memória como algo diferente, tão inédito que só poderia vir mesmo do primo Atanázio.

Hoje, agradeço com saudades por ter me dado assunto para estas linhas.

Com o passar dos anos íamos recebendo as notícias do Atanázio que deixou a moto de lado e acabou transformando-se em um comportado e dedicado pai de família.

Outro que me influenciou demais foi o Neto, filho da Tia Eta e Tio Tino, não pelas traquinagens, mas pelo exemplo de bom rapaz.

O Neto era um exemplo de pessoa com futuro bem sucedido. Estudava na Esalq e pessoa de inteira confiança de todos.

A Tia Nega, só para citar um exemplo, por diversas vezes deixou o Neto dirigir na estrada o seu Itamarati prateado.

Para nós garotos com bem menos idade era o must, o máximo que se poderia conseguir e prova de sucesso dentro da família.

Apesar da diferença de idade, eu sempre tentava uma aproximação para com isto conseguir algum prestígio.

Muitos anos se passaram e eu só fui encontrá-lo novamente em um dos eventos da família, se não me engano no casamento do Sérgio da Tia Maria Helena e o deixei surpreso quando lhe disse que ele foi um exemplo para mim. Ficaria feliz se um dia ele tiver a oportunidade de ler estas linhas.

Em terceiro lugar, mas não em importância vem o primo Paulo Ricardo, filho do tio Juarez.

Esta relação ficou marcada pelos contrastes, não só pelas áreas de formação, ele Medicina e eu Engenharia, mas também pelo estilo de vida. No tempo de garoto, eu levava uma vida pacata e simples de interior e ele um paulistano nato, acostumado a todo tipo de facilidade que era proporcionada pela cidade grande. Gostava de visitá-lo em São Paulo e o fiz diversas vezes acompanhando o papai.

A maior atração era poder brincar com os seus brinquedos. Ele tinha todos até os que eu sequer imaginava um dia ter, por exemplo, um autorama último tipo com “n” pistas, com o qual podia-se brincar num grupo grande de garotos. Era a maior sensação. O sonho de consumo de qualquer garoto da época.

Estes contrastes não me causavam frustração ou inveja, porque eu percebia muitas compensações que me ofereciam uma vida muito mais feliz do que a dele.

Estes contrastes permaneceram ainda por um longo tempo das nossas vidas. Eu na minha vidinha de interior e ele ainda paulistano.

Tivemos uma outra fase por volta dos vinte e poucos anos em que eu fui à forra.

Eu percebia nos seus olhos que a minha vida de mochileiro andando para lá e para cá, sempre de carona, era motivo de certo fascínio para ele.

Sempre que podia eu passava na sua casa para contar das minhas aventuras, é claro de mochila nas costas.

Nestas alturas quem estava levando uma vida mais chata era ele.

Assim, foi, que o Paulo Ricardo também a seu modo, foi mais um primo com presença marcante na minha vida.

Numa família grande como a minha escrever sobre primos sem esquecer de ninguém, renderia um livro.

Muitos outros passaram pela minha vida deixando suas marcas no meu coração, como é o caso, num passado mais recente, dos filhos da Tia Maria Helena.

Luiz A. G. Peixoto – Em: “Minhas Memórias”

luiz peixoto
Enviado por luiz peixoto em 11/11/2005
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