Cada pessoa é um mundo

Nada melhor para aprender sobre a natureza humana do que a convivência com essa espécie, tanto faz que seja na sua interação direta, ou por meio da observação, à distância, dos processos de relacionamento. Isso porque no dia a dia estamos sempre encontrando pessoas com as mais diversas formas de agir, de se comportar, tanto nos contatos individuais como grupais, o que nos leva a muitas surpresas, pelo que constatamos sobre as diversas reações possíveis que são apresentadas. E a observação desses tipos ajuda muito para ampliar a nossa percepção acerca das pessoas e com isso tirar as lições que podem nos orientar para um melhor relacionamento com os outros.

Assim é que encontramos aqueles que estão sempre de alto astral, transmitindo alegria e felicidade em todo canto que chegam, como há também aqueles que carregam consigo uma nuvem de pessimismo, capaz de contagiar até a mais otimista das pessoas. Há os que falam de coisas boas, como também os que procuram se antecipar para relatar, em primeira mão, os casos fatídicos. Há os que riem e os que choram, há os que atacam e os que sempre se fazem de vítimas. Os que se vangloriam e os que se lastimam. O crente e o descrente.

Muitos deles são levados na chacota, viram personagens folclóricos, inofensivos, enquanto outros são de grande perniciosidade ao grupo. E muitos outros tipos ainda há.

Alguns desses, em especial, me chamam a atenção: os que são calados por natureza ou os que falam demais, além dos que costumam agir de rompante, levados pela emoção. Para os primeiros, casa bem a expressão latina, in medio virtus. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. A sabedoria popular diz que em boca calada não entra mosquito ou, quem muito fala dá bom dia a cavalo, o que pode ser uma desculpa a ajudar na argumentação dos menos falantes de que é assim que devem proceder. Mas a natureza nos ensina, tanto é que nos fez com dois ouvidos, duas narinas e uma boca, decerto como indicativo de que devemos ouvir e ouvir, sentir e sentir, antes de falar. E não que devamos calar. Recorrendo à sabedoria do apóstolo Tiago, temos o ensinamento exemplar: “todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...” Em suma: hora de ouvir, ouvir, hora de sentir, sentir, hora de falar, falar e hora de calar, calar. Tudo com o devido comedimento. Para o outro grupo de pessoas, os que se deixam levar pela emoção, retomo a epístola de Tiago: “... tardio para se irar, pois a ira não nos torna bons como Deus exige que sejamos.”

Pessoas que costumam tomar posições muito radicais, chegando ao extremo de, fisicamente, demonstrarem o seu descontrole, ou aqueles que assumem compromissos difíceis de serem cumpridos já que não dependem apenas de sua vontade, acabam por se tornarem desacreditadas entre seus pares. E para essas, nada melhor do que relembrar o Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, imortalizado na voz de Elis Regina: “O homem que diz dou, não dá, porque quem dá mesmo não diz” , e mais ainda: “O homem que diz sou, não é, porque quem é mesmo é não sou”. Precisa dizer mais?

Fleal
Enviado por Fleal em 11/08/2020
Reeditado em 12/08/2020
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