Ilusão da unanimidade

Talvez essa expressão lhe seja desconhecida, que não faça parte do seu linguajar diário. Mas é bem provável que muitos, mesmo desconhecendo o termo, já tenham sido vítimas desse fenômeno. Vejamos: Já aconteceu de você estar em uma aula ou reunião e alguém dirigir perguntas ao grupo, no intuito de saber se as pessoas têm alguma dúvida sobre algo que foi comentado? É comum a inexistência de manifestação explícita de não entendimento, passando para a pessoa que questionou, a impressão de que todos dominam aquele assunto. Ocorre que na primeira oportunidade de um bate-papo a dois, fora daquele ambiente, a dúvida é manifestada, com a revelação daqueles que estão conversando informalmente. Ao inquirir uma terceira pessoa, verão que ela também tinha dúvidas. Resultado: o que se imaginava ser do conhecimento de todos, de repente passa a ser do domínio de poucos, ou de quase ninguém. Esse apresentador acaba de ser vítima da “ilusão da unanimidade”. Aparentemente todos concordavam que tinham conhecimento do tema. Essa era a ilusão.

E por que será que isso acontece? Esse é um fenômeno próprio do público adulto, e tem a ver com o chamado autoconceito ou autoimagem, que a pessoa forma de si. O adulto não quer ver essa sua imagem desgastada, tendo que reconhecer de público uma ineficiência, que imagina ser só sua. É como se ele olhasse ao seu redor, após a pergunta feita, e imaginasse que todos, por não terem se pronunciado, tenham conhecimento do assunto indagado. E será justamente ele a dizer que não sabe? Prefere, então, correr o risco de sair dali sem ter aprendido muito coisa, para perguntar depois a alguém que ele imagina ter entendido. A surpresa é quando constata que além dele, muitos outros também desconheciam o assunto.

E como fazer para livrar-se disso? É simples. Basta que se evitem algumas perguntas em situação de grupo, como: “todos aqui sabem sobre isso?” ou, “alguém tem alguma dúvida?”, ou outras formas de inquirir, que vão nessa mesma direção. Em vez delas, prefiram: “quem poderia falar sobre tal assunto?”, “quem poderia me ajudar, dando um exemplo?”, e assim por diante.

Resultado semelhante se obtém quando uma pessoa de nível hierárquico elevado, dirige-se a um subalterno perguntando se ele sabe fazer algo. A probabilidade dele dizer não, é muito remota, considerando o temor do que poderá lhe ocorrer, caso revele a sua ineficiência ao chefe. E o que ele responde? “-Sim, é claro que eu sei.” E sai dali correndo para perguntar a alguém, que nem estava na hora em que a tarefa foi passada, mas que é um “igual”, para saber como se desincumbir daquela missão. Resultado disso? Normalmente trabalho executado em não conformidade com o que foi pedido, gerando retrabalhos e muitos outros prejuízos. E tudo isso poderia ser evitado com mais um pedido: “- Já que você sabe, gostaria de observá-lo fazendo, antes de entregar-se à tarefa”. Somente assim poderíamos nos livrar de muitas dessas ilusões. Pense nisso quando for perguntar ou pedir que alguém faça algo para você.

Fleal
Enviado por Fleal em 18/08/2020
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