Poesia para uma semana de violência extrema e dor - Para um monte de gente

Já faz tempo eu queria escrever uma poesia. Uma poesia perfeita.

Não em métrica, não em rima.

Perfeita porque falasse de amor. Porque tocasse os corações dos homens e mulheres e transformasse a vida...

Perfeita porque chegasse aos seus olhos, seus ouvidos e tocasse de maneira profunda e avassaladora o seu coração.

Queria escrever uma poesia que causasse frisson, que tornasse os rostos carrancudos em caras sorridentes e as dores em prazeres; que afastasse os perigos e trouxesse de volta a paz, as coisas boas deste mundo e de outros mundos também.

Uma poesia que fizesse parar a bala antes de atingir o alvo errado. Que fizesse parar as mãos que estrangulam que ateiam fogo em meninas de dez anos. Em índios, mulheres, homens ou mesmo adolescentes.

Eu queria ter o poder de escrever uma poesia que fizesse com que o mundo parasse, um segundo antes do tiro.

Um segundo antes de acender o estopim.

Um segundo antes de riscar o fósforo.

Um segundo antes de começar uma nova dor.

Uma poesia que fizesse com que eu falasse pela boca de todos os pais e de todas as mães que tiveram seus filhos, brutalmente, arrancados de seus braços. Pela boca dos filhos que tiveram seus pais desaparecidos. Pela boca de irmãos e irmãs, amigos e vizinhos... de todos aqueles que se foram. De todos aqueles que imploraram por suas vidas que se ajoelharam diante de seus algozes e clamaram por piedade. Clemência.

Mas eu não consigo. Não sou capaz.

Resta-me apenas o silêncio. O silêncio de não saber mais que palavras usar para protestar, amainar, chorar, orar....

(Bruno Coelho e Márcia Constantino – Descansem nos braços de Deus!)

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 22/10/2007
Código do texto: T704588