A escola da família

Mesmo convivendo há cinquenta anos com Educação, com todas as dificuldades que são postas continuo a me emocionar com experiências e resultados obtidos por professores e professoras espalhados por esse Brasil a fora. Era um admirador do jornalista Gilberto Dimenstein, falecido recentemente, garimpeiro por excelência de muitos desses exemplos, que poderiam, sem dúvida, ser replicados em muitas escolas e comunidades, com suas devidas adaptações, levando esses benefícios a outras realidades. Antônio Gois, colunista de Educação do jornal O Globo, também pesquisa essa área e recém lançou o livro Líderes na Escola (download gratuito mod.lk/lideresc), destacando exemplos de gestão escolar que melhoraram a qualidade do ensino. Entre as várias cidades do mundo citadas, destaque para Campo Alegre, na Zona da Mata de Alagoas, no capítulo “A suspensão do lanche”, com a diretora Valquíria de Assis.

Vibro, como educador, com iniciativas como as que conduzem à quase universalização das oportunidades de estudo para os nossos jovens, aquelas que buscam a melhoria da qualidade do ensino, e, como não poderia deixar de ser, as tentativas de levar a um maior reconhecimento do exercício do magistério. Algumas siglas como Ideb, Fundeb, entre outras, passam a fazer parte do vocabulário corrente dos envolvidos com educação, trazendo uma grande esperança de que a situação escolar efetivamente passe por uma grande revolução.

Ocorre que nem sempre tudo aquilo que é pensado, estudado, debatido, chega com eficácia à sala de aula. Não sei precisar em que ponto está a falha, mas posso sugerir idéias que talvez tragam algum resultado.

Em 1975, recém chegado à Paraíba, fui ensinar em uma escola pública, o Instituto Dom Adauto, e algo me chamou a atenção: as filhas da diretora, a grande atriz Zezita Mattos, estudavam lá. As da coordenadora do complexo escolar, Cléa Coelho, também. E aos poucos os professores foram levando os seus filhos para a escola. Como consequência, os mestres tinham um jeito diferente de trabalhar, e os resultados são vistos hoje, mais de quarenta anos depois, com grande parte daquela turminha tendo progredido nos estudos, em áreas diversas, entre elas as concorridas medicina e direito.

Alguns anos depois, em 1991, participei de uma experiência semelhante, com a criação da primeira cooperativa de ensino público do Estado da Paraíba – a do Sesquicentenário – em que vários pais, liderados pela professora Lúcia Geovanna (também já falecida) – resolveram experimentar uma forma diferente de se conduzir a educação pública, que é referência até hoje. Lúcia ficou como diretora por um longo tempo e nesse período viu passar por lá, como alunos, todos os seus filhos. Vários professores e demais funcionários da escola, também seguiram o mesmo caminho.

É claro que pode ser só uma coincidência e que não haja a associação entre a qualidade da educação oferecida nessas escolas com a presença de filhos de trabalhadores de ensino desses estabelecimentos, como parte do corpo discente. Essas variáveis mereceriam ser testadas. Para ajudar, uma ideia maluca: agora que estamos elegendo um novo prefeito, por que não incorporar nessas propostas de melhoria do ensino, nas políticas salariais, um bônus especial a diretores, diretoras, professoras e professores que colocarem os seus filhos para estudar nas escolas em que eles trabalham? E os próprios candidatos a postos eletivos também assumirem esse compromisso. Pense no simbolismo da ideia: pais, professores, funcionários e políticos, acreditam tanto na qualidade do ensino público, que colocam os seus filhos para estudarem lá.

Deu certo com Zezita, com Cléa e com Lúcia nas experiências que elas protagonizaram. Não custa tentar.

Fleal
Enviado por Fleal em 15/09/2020
Reeditado em 18/09/2020
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