Endurecer sem perder a ternura...

Às vezes, pergunto-me que diferença faremos ao mundo se somos de cristal? Não podemos nos estilhaçar a cada pedrada recebida, pois se a cada dor sentido virarmos fragmentos esparsos, jamais seremos inteiros e impares para promover alguma mudança no universo. Dias desses, ouvi uma frase de um personagem num seriado, “ para que tu queres alguém de vidro que a qualquer dificuldade se esfarela em migalhas aos quais tens que juntar para enxergar a pessoa novamente”. Penso muito sobre o que é sermos fortes, racionais e lógicos? Será que a racionalidade e a logicidade nos salvará das destruições a que sofremos diariamente mediante aos problemas individuais ou sociais a que somos expostos? Ou será que sermos fortes constitui-se em enfrentar as dificuldades mostrando sentimentos, chorar sem ter medo de julgamentos bobos. Derreter-se em lágrimas num dia cheio de sol, em que todos nos vêem, sem dar explicações, somente seguir chorando com os olhos embaçados. Normalmente, choramos na chuva, torna-se mais fácil, pois temos os eternos medos de sermos frágeis, de vidro, de cristal. Venho de uma família grande com uma mãe sempre cansada e irritada que invariavelmente dizia, “ se chorar apanha mais”. Aprendi a calar o choro e fingir sempre uma fortaleza que nunca existiu em mim, assim fui me destruindo por dentro em meio ao silêncios das lágrimas engolidas. Em mim, abriu uma enorme cratera que nada preenchia, gostava de estudar e os livros não deixaram a fenda do descaso me engolir. Estilhacei-me em diversas vezes pelo universo, fui adolescente e jovem no final dos anos oitenta e inicio dos noventa, sim, as drogas me acompanharam junto aos livros, as leituras e a universidade de Letras. Entretanto os meu cacos, sempre consegui juntá-los, eu não era de cristal, estava mais para uma fênix sempre nascendo novamente. O tempo me auxiliou nesse crescimento emocional, não ele sozinho, junto com a passagem do tempo veio bons livros, amigos, filhos queridos e uma boa psicóloga ao qual faço terapia semanalmente. Ainda não descobri como ser racional, lógica e não chorar ( fora da chuva) quando assisto noticias tristes. Já a fragilidade, isso tenho certeza que não tenho. Como dizia certo cara danado de bom: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.

16/09/20

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 16/09/2020
Reeditado em 19/04/2021
Código do texto: T7064889
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.