Crepúsculo

Andando numa praia deserta de uma ilha às 18h, logo após o Sol se por, senti o vento do mar no rosto, os pequenos barcos atracados balançando ao sabor das ondas. Ouvindo músicas românticas dos anos 70/80 num fone de ouvido, as emoções afloraram. Lembrei que uma filha vai fazer 31 anos, a outra, 35 e meu primogênito 44 anos. A vida se esvai pelos dedos das mãos como a areia desta praia. Meu filho me deu dois netos e as filhas, cada uma me deu um neto. Não posso vê-los por causa do Covid 19. Vejo como o tempo passa rápido, inexoravelmente. Todos cresceram, estão seguindo suas vidas, como deve ser. E me bateu a tristeza. Tristeza de não ter ficado mais juntinho na cama, na hora de dormir. Com cada um deles. Contado mais estórias e histórias. Tristeza de não ter me dedicado mais por causa do trabalho. Tristeza por não ter feito mais por eles. Mesmo sabendo-os felizes hoje, me falta a presença. De todos. E o vento nos meus ouvidos, embaixo de uma Amendoeira, me lembra sussurrando, que a vida é um ciclo. Que logo não estarei mais aqui. Que logo, eles não estarão mais aqui. E esse sentimento de impotência perante essa constatação das coisas da vida, me fez, inevitavelmente, chorar. Chorar na máscara de proteção contra esse vírus implacável que nos deixa sem chão, pois não temos forças para combater um gigante tão pequeno e avassalador, só nos restando orar por quem amamos, pedindo proteção para os mesmos. Pedindo forças para conseguir ver os netos crescerem saudáveis. Pedindo uma morte rápida para mim, quando chegar a hora, para não dar trabalho a ninguém...