Aprendendo sempre

Notícias ruins em áreas diversas, sejam os números da pandemia, a segurança, a ambiental ou a de educação, têm dado o tom em nossos noticiários. Não escapa um dia sequer, sendo a segunda feira o que se supera. Como disse certa vez uma apresentadora de TV em mensagem no twitter, “o fim de semana sempre acumula notícia ruim”. Inclusive, infelizmente, a derrota do nosso time do coração.

Confesso a dificuldade para escrever fugindo desses temas, já tão debatidos em todas as midias, uma vez que esses se tornam assuntos recorrentes nas conversas, como se fosse um chamado para entrar nessa discussão.

Tive então que me valer de fatos passados, para não me contaminar com tanta tragédia. Lembrei então de uma matéria de capa da revista Veja, de janeiro de 2007, com Clint Eastwood. Entre os comentários sobre os seus dois filmes que concorriam ao Oscar daquele ano (Cartas de Iwo Jima e A conquista da honra) e a sua trajetória como ator e diretor festejado, pincei uma de suas falas: “Todos me perguntam por que estou fazendo melhor meu trabalho agora, nesta altura da vida. Para mim, parece simples: sei mais hoje do que sabia aos 40, aos 50 ou aos 60. E não parei de aprender.” Na época ele tinha 76 anos.

Só para lembrar: O filme Cartas de Iwo Jima foi indicado ao Oscar em quatro categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor edição de som. Venceu nessa última categoria. Mas levou o Globo de Ouro, como melhor filme estrangeiro, em 2007. E depois deles já vieram, entre outros, A troca, Gran Torino, Invictus, Além da vida, A mula, até o mais recente O caso Richard Jewell.

Busquei associar o que ele disse à série de programas exibidos no Fantástico em 2006 – Tempo, o dono da vida – ancorados pelo Dr. Drauzio Varella. Por várias semanas problemas próprios de quem tem a sorte de adentrar no caminho que leva aos 70, 80 anos, foram apresentados. Em um momento era a osteoporose, e os seus efeitos sobre os ossos, deixando-os mais fracos com a idade; depois vinha a informação sobre a perda da visão e audição, com a consequente limitação no ir e vir da pessoa; não ficou de lado o momento em que tudo dói; até chegar à redução da vida sexual. Prognóstico nada animador para os idosos.

Mas sempre aparecia o depoimento de algum velhinho bem resolvido, como foi o caso do ator Paulo Autran, falecido em outubro de 2007, com 85 anos, em cartaz com a peça O Avarento. Ele creditava à sabedoria divina a nossa perda gradual da visão, para nos poupar de enxergar determinadas “mazelas”.

Mas cada capítulo da série não encerrava antes que alguma “receita” fosse dada. E uma delas foi passada pelo Dr. Ivan Izquierdo, diretor do Centro de Memória da PUC/RS: para ele o segredo está em se ter “uma vida sadia, uma boa alimentação e ler, ler e ler. É o melhor exercício, não tem outro.” Livros à mão cheia, como dizia o conterrâneo Castro Alves. É a esse aprendizado, além do que é recolhido nas “sofrências” da vida, que se refere o ator Clint Eastwood. É um exemplo a ser observado nessa perspectiva de vida longa.

Fleal
Enviado por Fleal em 29/09/2020
Código do texto: T7075000
Classificação de conteúdo: seguro