Sobre baús e amor.

A felicidade está nas pequenas coisas, porque essas, nos são grandiosas demais! (Adi Santos)

Ano: 1970, mês...quase todos do ano e outros mais.

As brincadeiras na casa do meu avô Elias e de minha avó Ester eram intermináveis. Dentre elas, a de esconder-se no guarda roupa e baú do quarto do casal. Havia um ritual: entrar no escuro do quarto e abrir o baú de roupas da vovó. Ao levantar a tampa, o cheiro de naftalina tomava conta do quarto, mas para os meus pequenos oito anos, não achava ruim, pelo contrário, me remetia ao cheiro dos meus avós, que gostavam de roupas engomadas e limpas. Vovó tinha muitos vestidos com estampa de flores, sempre suaves, meio carbonadas todos franzidos na cintura, nunca a vi de calça comprida ou saia, era sempre de vestido. Ela tinha uma cinturinha de causar inveja, seus longos cabelos cor de mel, olhos expressivos e apaixonados pelo meu avô, mas o maior prazer era saber que não se importava quando eu e meus primos íamos no seu baú e vestíamos as roupas que ali estavam guardadas e brincávamos o dia inteiro de esconde esconde. O guarda roupa parecia cenário de filme, tinha um buraco tipo olho mágico que de dentro víamos todo o quarto, e escondida naquele mundo novo, meu coração disparava quando alguém me achava. Eu, com o vestido longo nos meus oito oito anos, me sentia uma princesa dos livros de contos.

Quando chovia, a brincadeira ficava melhor ainda, o tempo friozinho nos levava a um mundo imaginativo. A cama dos avós era de alumínio e na cabeceira havia uma peça em forma de flor que girava quando a gente passava a mão , eu adorava fazer girar aquele objeto zoadeiro cujo som está a zunir em meus ouvidos até hoje.

Ah, lembranças, saudade da minha infância saudável e bem aproveitada.

Hoje, a cena se repete, com alguns cortes, é claro.

Meu neto Matheus conheceu o baú do meu quarto. Dentro dele, edredons, lençóis e moletons. Quando abri a tampa para ele, um sorriso aflorou, frouxo, os olhos brilharam de felicidade e ele passou a tarde brincando de esconder-se entre panos, foi uma tarde memorável, misturando as sensações prazeirosas em meu coração de avó, que se sentia neta.

Agradeço a Deus por desfrutar com o

meu netinho momentos divertidos. Ele só tem 2 anos, talvez até esqueça dessas brincadeiras com o tempo, mas pode ser que não, isso não importa, o que realmente tem importância é o momento, o agora, o hoje! E o momento, é de pura felicidade!

Gratidão por poder viver tudo isso!