A Onda de Amor

Haverá um dia em que todos os homens terão a mesma importância sobre a face da Terra. Um dia em que o engenheiro, o empresário, o professor, o comerciante, o agricultor, a faxineira, o lixeiro e, até mesmo a puta e o vagabundo, serão dignos do mesmo respeito e consideração. Nesse dia, não haverá espaço para o preconceito. O branco e o negro caminharão lado a lado. O rico e o pobre trocarão abraços afetuosos. O garoto gordo e deficiente receberá afagos em sua cabeça, como uma benção vinda de alguma santidade suprema. Já a carente criança chorona ganhará os mais variados peitos, sendo sempre exaltada e, bisonhamente, paparicada. Nem mesmo o suor fétido decorrente das aglomerações mistas será capaz de estragar a perfeita harmonia que reinará entre os seres. Durante essa confraternização, o marido e a esposa, mesmo que distantes (inimigos) na intimidade, permanecerão unidos e felizes aos olhos de todos. E a família tradicional burguesa estará, pelo menos por ora, curada das chagas que prejudicam ferozmente a saúde debilitada do caráter de seus membros.

Uma onda de amor atingirá as praias mais remotas da terra, e até o mais miserável dos homens se sentirá importante, tendo a certeza de que fará parte desse sistema pouco antes excludente. E os grandes oradores, apoiados em sofismas, emocionarão a multidão que, tomada pelo delírio passageiro, levantará a bandeira da tão sonhada vitória.

Será esse um dia simplesmente atípico? Ou talvez o juízo final?

Não. Apenas uma campanha eleitoral.

Renato A
Enviado por Renato A em 30/10/2020
Reeditado em 30/10/2020
Código do texto: T7100162
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