Idosos na vida real

Ainda nas primeiras séries do antigo ginásio acostumei-me a ouvir dos professores que o Brasil era um país de jovens. É claro que o tempo passa para todo mundo e a juventude daquele tempo acabou se transformando em pessoas idosas. Eu mesmo já sou um deles. De forma que o ensinamento agora já é outro: estamos nos aproximando de ser um país de velhos.

Com o passar dos anos o IBGE divulga novas estatísticas, que já atestam serem os idosos 13 % da população brasileira. É provável que esses números nem digam muita coisa para o cidadão comum, até que ele vai pegar um ônibus, fazer compras em um supermercado, ou enfrentar a fila em um banco. Aí, na prática, é que se vê o envelhecimento da população.

Algum tempo atrás, antes da pandemia, fiz uma viagem a Salvador e, como estava com tempo disponível, fiz o trajeto do aeroporto ao meu destino de ônibus. Observei que nas diversas paradas do coletivo, o número de pessoas com mais de 65 anos que subiam pela frente, com direito à gratuidade, era muito grande, de forma que o espaço que é reservado para elas sentarem, acabava sendo insuficiente para abrigá-las, passando a ocupar também as outras cadeiras que, teoricamente, seriam para os pagantes de menos idade. Essa acaba sendo, inclusive, uma das justificativas dadas pelos proprietários de empresas de transporte para o aumento das passagens dos ônibus coletivos.

Sempre que vou ao Banco, para resolver alguma coisa que não posso fazer pela internet, (tipo confirmar que estou vivo), observo que os caixas eletrônicos reservados para as “prioridades” algumas vezes já apresentam filas maiores que a dos outros caixas. É claro que isso tem a ver também com a dificuldade de alguns idosos no manuseio das máquinas, ou à mansidão dos gestos, própria da idade, o que faz demorar esse contato homem x máquina.

Nos supermercados também é assim. Normalmente a fila das “prioridades” anda lotada. Mas há uma coisa que eu tenho notado e que me incomoda muito: é a postura de alguns idosos em relação aos direitos que a idade lhe concede. Digo isso como alguém que já adquiriu essa primazia (em linguagem de hoje, tenho o “lugar de fala”) e que conviveu com uma pessoa que curtia com muito humor esse “privilégio”. Em mais de uma situação eu já presenciei pessoas idosas, com todo o direito que a idade lhes confere, e que ninguém contesta, dirigirem-se de maneira grosseira para o atendimento nessas filas. Coisas tipo: “- Vou passar na frente porque estou no meu direito”. É claro que não há nenhuma necessidade disso. Basta que, com bom humor, dirija-se para os que estão na fila e diga: “- Deixe o velhinho passar aqui que eu agora preciso descansar um pouco...”; ou um simples, mas eficaz, “com licença”, ou coisa parecida. É claro que não foi a idade que a tornou mal educada. É bem provável que na mocidade também tenha sido assim, grosseira. E também não é por isso que as pessoas vão deixar de ceder a vez. Mas sempre que alguém age dessa forma, com falta de educação, as pessoas comentam ou, no mínimo, pensam com os seus botões: “- Será que é preciso ser grosseiro para fazer valer os seus direitos”? Ser enérgico, assertivo, na concretização das conquistas é uma coisa que deve valer sempre. Mas, ser grosso, aí já é outra história que não combina nem com o velho, nem com o novo.

Fleal
Enviado por Fleal em 08/12/2020
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