Ato da criação

Sisleine nasce sem batismo, laica como deve ser uma republicana verdadeira. Trágica personagem do qual nem o autor se apieda. Mesmo assim dói ouvir “Sis-lay-ne” pronunciada desta forma, metida no blusão carcomido. Vemos imediatamente Sisleine enferma, desgraçada, nunca suavemente doente por compota de pêssego.

A imaginação para o mais baixo é dinâmica, vil, nada castiça na propriedade da fala.

Dou-lhe adeus e um cartão de loteria. Decido abandoná-la a ter que maltratá-la em pensamento. A consciência criada pela imaginação me indaga: por que não a enriqueceu antes, na origem? Era solução fácil. Bastava acrescentar uma herança surpreendente.

O Escrivão de Justiça Nicanor bate no casebre e pede a ela que assine o papel. Subscreve sem ler julgando ser presa sem condenação. Para não dizer que não sou generoso nem em imaginação lhe dou uma montanha de ouro maciço. Explicação lógica é tão importante numa invenção quanto numa péssima mentira, por isso surge em cena o ancestral rico, aquarista, cuja fortuna dedicou toda ao seu nome em inventário. Vai Sisleine, desfruta da vida que nunca tivestes.

Com encanzinado empenho lutei tentando minimizar a primeira impressão da criação. Tornei-me escravo de Sisleine. Gastei horas escolhendo entre problemas sérios, aqueles que seriam seus, sem saber ao certo se gástricos ou conjugais, mas que acabariam sendo enfaticamente os meus.