Outros Cronistas III: Jule Santos

O terceiro autor que trago pra vocês nessa breve série "Outros Cronistas" é Jule Santos, escritora e médica de urgência que trabalha no Distrito Federal. É autora do livro "Veronika Maran - Born to be wild", lançado em 2018 pela editora Multifoco (imagem acima), justamente contando a história de uma médica e de seu cotidiano numa emergência do SUS. Jule tem publicado pequenas crônicas em suas redes sociais, que funcionam até mais como depoimentos do dia a dia enfrentado pelos profissionais da saúde nessa pandemia que, estamos vendo, já entra num repique mais forte do que a primeira onda no Brasil.

Assim, republico o texto abaixo aqui no Portal de Notícias. Para quem quiser conhecer mais a literatura de Jule Santos, além de adquirir um exemplar de "Veronika Maran", já se encontram disponíveis para leitura na internet os dois primeiros capítulos de seu novo livro - ainda em construção -, "Teu Ar", que vai na mesma linha de seus textos mais recentes, ou seja, um relato forte, cru, visceral e pungente da luta pela vida contra a Covid-19 nos hospitais brasileiros. Eis o link para eles: https://www.wattpad.com/1003828309-teu-ar-cap%C3%ADtulo-1-um-dia-de-f%C3%BAria-na-pandemia/page/2?utm_source=web&utm_medium=twitter&utm_content=share_reading&wp_uname=JuleSantos9&wp_originator=BEsUJkpbVPC%2FTwhebT6mBtApY5lNKu7SR6Ra%2FvojWHJcGoDVKMAsclWzb7XbeHAxQ79aal3x3JJsv04pSFot7%2BapgZx8dghD77gi3RjNT%2Fg7nA996O7yMwFIVHe1gprA&_branch_match_id=875412524645799605

7 DE JUNHO, HOSPITAL REGIONAL SANTA MARIA - DF

Assim que entrei no quarto eu sabia, ia ter que intubá-la.
Ela brigava com todas as forças contra o medo para respirar.
Examinei-a, perguntei o essencial, olhei a gasometria e expliquei o que a gente ia fazer.

- E o bebê?
Ela tinha acabado de descobrir que estava grávida.
- Agora nós temos que cuidar de você.
- Doutora, por favor, não posso morrer. Eu tenho 3 filhos que dependem de mim e eu estou com medo, por favor, me ajuda.

Liguei para o marido e para a mãe dela, expliquei o que estava acontecendo e o que seria feito. E eles conversaram com ela. Ela deu orientações para o que deveria ser feito pelas crianças e se despediu dizendo que os amava.

- Doutora, me promete que eu vou sobreviver, que eu vou acordar?
Travei por um segundo, depois apertei a mão dela de volta e disse a verdade:
- Nós vamos fazer todo o possível para te ajudar a melhorar, eu prometo.

Eu amo esse emprego, e tenho orgulho da médica que me tornei.

"Temos que mostrar força. E mostrar força não é o mesmo que não admitir que nós temos medo, mostrar força é comparecer" - Jule Santos.



Texto publicado no site e nas redes sociais do jornal Portal de Notícias: https://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/