Outros Cronistas IV: J Estanislau Filho

Hoje lhes apresento em Outros Cronistas o mineiro J Estanislau Filho, escritor e poeta autodidata com um longo caminho já percorrido na arte literária, apresentando prosa e verso se olhar humano, realista, socialmente engajado e politicamente consciente. Criativo, produz em diferentes gêneros, dentre esses poesia, crônica, prosa poética, ensaio, resenha, conto, novela e romance - está em fase de revisão A Construção da Estrada de Ferro, que será lançado em livro esse ano.

Além de ter participado de várias antologias como Poetas Gerais de Minas (1984), Antologia Poética (Triart Editora, 2001) e Nós da Poesia + 20 Nosotros (2012), já publicou as obras: Nas Águas do Arrudas (1984), Três Estações (1987), O Comedor de Livros (1991), Crônicas do Cotidiano Popular (2006), Todos os Dias são Úteis (2009), Filhos da Terra (2009), Palavras de Amor (2011), Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros (2012) e A Moça do Violoncelo e Estrelas (imagem acima: interessante publicação de dois livros em um, com duas capas, de 2015), cujos exemplares ainda se encontram à venda - os demais já estão esgotados. Junto com A Construção da Estrada de Ferro, está no prelo As Aventuras de Raul (infanto-juvenil) e, na fase de desenvolvimento, Outras Espécies.

Seus textos podem ser encontrados no site Recanto das Letras (https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=41122), no seu blog (http://www.jestanislaufilho.blogspot.com) e no Facebook Poetas Gerais das Minas (https://www.facebook.com/escritorepoetajestanislaufilho/).

Construção

Estava deitado na rede da varanda de nossa casa, contemplando o jardim e as aves miúdas que brincavam e procuravam alimento na grama e nas folhas das palmeiras. O que era pra ser uma simples distração transformou-se em reflexão. Destruir o jardim que levara anos a se formar, bastaria algumas horas.

Mesmo hoje, com tecnologias avançadas, construir uma escola, um hospital ou um condomínio residencial consome um bom tempo de trabalho e grana. Mas meus pensamentos se fixaram na construção de uma casa simples, básica, porém digna de ser habitada por uma família pequena. Afinal, hoje em dia as famílias não são numerosas. Pensei numa casa de três quartos, sala, cozinha, um banheiro, área de tanque, uma varanda. Cômodos pequenos. Pensei num quintal, onde tivesse espaço para uma cadela, ou um cão. Prático, também pensei numa pequena horta: uns pés de couve, cheiros, essas coisas.

Para essa construção é necessário um planejamento. Um engenheiro desenha a planta; um pedreiro, que além de pedreiro é eletricista, telheiro, bombeiro hidráulico é contratado. Supondo que o dono da obra levara anos economizando e tenha a grana suficiente para bancar a construção. Beleza. Inicia-se os trabalhos. Tijolos, areia, cimento, ferragens, tinta, portas e janelas, enfim, tudo à disposição dos trabalhadores.

Quanto tempo levarão pra concluir a obra? Considerando que os trabalhadores são feras, em algumas semanas já bateram a laje. Agora é necessário uma pausa, para a laje se firmar. Depois de alguns dias, podem retirar o escoramento. Nesse ínterim assentam marcos, portas e janelas. Para não alongar a narrativa, a casa está pronta pra ser habitada. A casa ficou pronta em cinco meses. É muito? Dois meses, menos que isso é improvável. Hora de mobiliar. Os moradores estão felizes. Eis que um outro personagem surge na história.

Trata-se de um cidadão de posses. Ele gostou do local da construção. "Vou lucrar muito, comprando isso", pensa. E se apresenta interessado em adquirir o imóvel. Com seu faro especulativo, oferece xis. O dono recusa. Mas o empresário na verdade é lobista de uma grande construtora. Usa todos os "recursos" disponíveis para pressionar o proprietário, que não resiste. Vende a casa, duramente construída.

O novo dono bota tudo abaixo. Em uma semana? Não, ele tem pressa. Em dois dias a construção é demolida, para dar lugar a um prédio de dez apartamentos.

O pensamento, sim, estava apenas pensando, enquanto contemplava os passarinhos no jardim. Tudo isso me levou ao seguinte questionamento: quanto tempo e recursos foram necessários para construir a Petrobras? Para construir portos e aeroportos? Malha rodoviária e ferroviária? E o Sistema Único de Saúde, popularmente conhecido por SUS, quanto tempo e recursos foram necessários?

Então concluí: construir demora. Destruir é rápido.




Texto publicado no site e redes sociais do jornal Portal de Notícias: https://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/