Tecnologia e simplicidade

É comum pensar em tecnologia e fazer a associação a coisas muito complexas, inacessíveis, e quase sempre ligadas a objetos. Foguetes, computadores, celulares, são alguns exemplos de como a tecnologia se concretiza aos nossos olhos. O fato é que nos surpreendemos tanto com essa sofisticação que nem damos conta de pequenas coisas, aparentemente banais, mas que têm um grande efeito na vida das pessoas.

Acompanhei a ida de um dos meus netos ao médico, por apresentar um quadro febril. No exame, além das já esperadas perguntas, a ausculta e o respirar fundo, seguiu-se um leve movimento para frente e para trás da cabeça, em busca de alguma rigidez na nuca. Com isso, algumas suspeitas são deixadas de lado. Vi tudo aquilo e fiquei pensando: quantas vidas já não foram salvas pelo diagnóstico a tempo, de uma meningite, identificada a partir desse simples exame. O que hoje é repetido milhares de vezes pelo mundo a fora por médicos, quantas horas de observação, troca de ideias, debates, não foram consumidos antes que, cientificamente, ficasse comprovado que um dos sinais indicativos daquela doença fosse essa rigidez nos movimentos da cabeça.

Outro tipo de “tecnologia” também na área médica e que se espalhou, é o cuidado higiênico de lavar as mãos. A informação que se tem é que tão logo esse hábito começou a ser introduzido (o que a princípio não foi bem aceito), o índice de mortalidade decorrente dos procedimentos cirúrgicos a que as pessoas eram submetidas, caiu de forma a chamar a atenção. A pandemia trouxe à evidência esse cuidado, junto com outras “tecnologias” como usar máscaras e distanciamento social que, infelizmente, como muitos reagiram negativamente centenas de anos atrás, ao lavar das mãos, nos tempos atuais ainda há quem os negue.

Hoje, sabendo dessa história, ficamos sem entender porque algo tão prosaico demorou tanto a ser introduzido como um hábito, que tantas vidas consegue salvar. Novamente é bom que se lembre de quanto estudo, quanta pesquisa, quanta observação e experimentação estão por trás desses simples procedimentos.

Os exemplos citados acima evidenciam que a solução de muitos problemas com que nos defrontamos não está em soluções complexas, inacessíveis. Muitas vezes queremos complicar as coisas e acabamos embaçando a nossa visão para o que é simples, até quase óbvio. Temos que nos valer então dos estudos que já foram feitos, para não termos que ficar novamente tentando inventar a roda, quando ela já foi criada há muito tempo.

E tudo pode ser facilitado se procurarmos nos valer da ciência para dar legitimidade a nossa ação. Isso em todas as áreas, educação inclusive. Todo o estudo que fazemos de história, filosofia, metodologias, e dos vários clássicos educacionais, só têm sentido se esses ensinamentos puderem ser transportados para a sala de aula. Com certeza, muitas das soluções para os problemas que enfrentamos na escola, já foram percebidas por muitos educadores, que já conversaram com mais outros, que observaram, estabeleceram hipóteses, e escreveram essas conclusões. Na quase totalidade dos casos não é preciso, portanto, começar do zero para encontrar as respostas que tanto precisamos para muitos desafios que temos pela frente. Como disse o poeta, “as coisas estão no mundo; só que eu preciso aprender”.

Fleal
Enviado por Fleal em 30/03/2021
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