COLÍRIO PARA OS OLHOS.

Ela... Misteriosa figura feminina, passou por mim de cabeça baixa e passos curtos. Pela expressão desoladora de sua face, pelo andar descuidado, certamente que ela, essa enigmática e bela figura feminina estava triste, no mínimo preocupada, era o que me pareceu. 

Ela... Depois de alguns minutos no banheiro, retornou com os mesmos passos incertos, porém, não estava mais com o casaco rosa florido, os cabelos estavam soltos. Nem parecia mais aquela moça triste. Embora os passos revelassem estremo desânimo, exibia nos formosos lábios discreto sorriso, eu não me lembro de vê-lá na redação do jornal.

Ela... Misteriosa figura feminina, ao passar por mim, presenteou-me com uma ponta de seu belíssimo sorriso. Um quase inaudível, 'oi', que retribui meio sem jeito, ela, moça de olhos verdes, face luminosa, furinho na bochecha, que encanto... Segui-a com os olhos, com o coração e a alma, desejei-a mais do que eu poderia desejar.

Ela... Moça cujo nome desconheço, sentou-se de frente onde eu estava, para o meu completo desespero. Nas suas delicadas mãos trazia um copo de café, o celular na outra, olhar atento, dedos ágeis no teclado do computador. Eu evitei, mas, infelizmente, ou felizmente, observei, antes dela se sentar, a majestade de suas perigosas curvas, e o quão harmonioso é o conjunto de seu corpo, pernas, cintura, seios e ademais partes, me perco de olhos abertos em vil imaginações e pensamentos imperfeitos.

Ela... Moça alta, certamente que nova na redação do jornal. As minhas andanças me permitem ficar pouco por aqui, para não dizer quase nada, o que me deixa desconectado com as novidades. Prefiro assim, sair, andar, estar no meio do povo, onde as coisas acontecem. Trabalhei assim a vida inteira, agora na iminência da aposentadoria, não vou mudar meus hábitos. 

Ela... Moça de estonteante beleza, tirou meu foco, não seria ela o tema desta crônica, busquei a crônica fora mas, dadas as circunstâncias, eu não poderia deixar em branco o fato de ter como colega de trabalho, tão encantadora mulher, ela por fim é o tema da crônica que encontrei aqui dentro. Se ela permanecer por muito tempo não sei, o que sei, é que tê-la aqui na redação, é um colírio para os olhos. Que seja eterno enquanto dure.

Vivemos um momento único na história humana, onde as pequenas e insignificantes coisas passaram a ter grande importância em nossas vidas. Detalhes que antes ignoravam, agora, com essa pandemia interminável, nos impondo forçada quarentena, passamos a ficar de olhos mais atentos e corações mais abertos para a própria vida.

Eu poderia deixar somente para mim a impressão que essa linda moça, sentada à minha frente trouxe, tão desatenta trabalhando em sua matéria, não percebeu ainda que ela... Ela tornou-se a atração de cada olhar dessa redação, é a inspiração desse relés cronista..

( A. L )

Alberto de Andrade Lispector. ( A.L )
Enviado por Tiago Macedo Pena em 02/05/2021
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