Grito

Como sair?

A agonia de não poder fazer nada é cortante, talvez, em alguns anos, eu consiga diluir o bolo amargo que se forma na garganta quando, por obrigação, preciso me calar.

Não me leve a mal, sei ficar calada quando é cabível, mas ser obrigada a encarar a situação de boca fechada pode ser torturante. Ainda mais quando não se pode fugir do que silencia, do que abafa toda a chama interior, embora a fumaça ainda saia pela chaminé.

Algumas vezes não adianta conversar, a proporção que as coisas têm na vida de cada um é relativa. Consigo recorrer à escrita, mas nem sempre ela consegue suprir o ímpeto da fala.

Aquele que cala, cala até quando não está falando, cala a vontade de viver do outro, cala o amor pelas coisas simples e até a esperança nas boas pessoas. Aquele que é calado não se sente gente, é calado pelo que sente e até tem medo de sentir, é calado pelo tempo, é calado até quando aquilo que lhe cala não está presente.

A claustrofobia de estar dentro, mata aos poucos o que resta de eufórico e bonito.

A pior tentativa de fuga é aquela na qual, se sabe, que a saída não existe e nem vai existir tão cedo, é uma corrida em círculos.

Me calo, engulo o choro e respiro, assim como me mandavam quando criança, sigo com a cabeça cheia e a boca mais ainda, o doce gosto da nostalgia reprimida da infância.

Os gritos são à toa.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 03/05/2021
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