Em 1983, aos 20 anos, juntei-me a um grupo de amigos e fomos passar a semana santa em Goiás Velho, cidade histórica de Goiás, muito famosa por suas comemorações, especialmente no carnaval e obviamente na semana santa.
          Encantei-me com a cidade e decidi fazer um turismo histórico: igrejas, museus, as ruas ainda de pedras como no século XIX e casarões conservados. Um povo hospitaleiro e a sensação de ter voltado no tempo.
          Um dos meus amigos que me acompanhava, pediu-me para irmos até a casa da escritora Cora Coralina comprar seus famosos doces que sua mãe havia encomendado. Eu, no alto da minha arrogância literária, afinal já tinha lido Shakespeare, Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado,  perguntei quem era essa escritora. A única resposta que recebi do meu amigo foi: ela é daqui de Goiás.
          Chegamos em uma casa simples e fomos recebidos por uma velhinha de 93 anos alegre, conversadeira e contadora de causos. Compramos seus doces - eu também comprei - tomamos café e fomos embora. Voltei para Brasília e esqueci d. Ana, que era seu nome.
          Em 1985, Cora Coralina voltou a pátria espiritual e toda a imprensa fez a cobertura, enfatizando a sua importância na literatura brasileira. Imediatamente comprei seu livro "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais" e percebi o quão importante ela era. Fiquei arrasado por tê-la conhecido e não ter aproveitado aquele momento tão especial. Até hoje não me conformo com a minha estupidez.
          O que posso dizer a Cora hoje? Minha querida, no nosso encontro você tão grande e eu tão pequeno. Perdoe a ignorância de um jovem, que como todos os jovens, achava que sabia tudo e na verdade não sabia nada.
          Ave Cora!
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 03/05/2021
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