DIAS AMARRENTO

Sua infância, sua juventude sempre morando cidade diferente daquela em que nasceu e na qual estava sua família. Estes cinco anos foram os da sua graduação. E também foram anos de muitos sentimentos. Um deles era a saudade. A distância. Estar longe.

A rotina consistia em viajar para sua cidade natal às sextas e retornar aos domingos para a cidade de estudos. Entre tantas caronas, idas e vindas, sacolas de comidas, mochilas e malas de rodinhas, vivia esse ir e vir. Muitas viagens!!!! O contexto mudava semanalmente — quinzenalmente, por vezes — só não mudava a saudade.

Eis que ao longo dos meses os domingos começaram a compor um cenário terrível de despedida. De um até logo que poderia ser um adeus. Nunca se sabe o que a vida o planejava!

Os domingos eram todos péssimos. Todos chatos. Em pouco tempo passou a odiá-los. Acordava ranzinza aos domingos. Se tornou o pior dia da semana e por extensão destruiu fins de semana inteiros. Poderiam ter sido dias bons, mas ele aprenderia sobre isso algum tempo depois. Passado muitos anos.

Durante este tempo foi fiel ao ódio. Domingos? Preferia fazer nada neste dia, dormir sem expectativas, acordar e deixar o dia passar. Observar pela janela sem olhar o mundo com interesse.

Assim ele se tornou uma pessoa chata aos domingos. Não aceitava convites nem se engajava em fazer planos diferentes, afinal, era o bendito dia de dizer tchau. Tchau às pessoas amadas. Oi às rodovias movimentadas.

Tempo se passaram. Considerando uma média de vários domingos, viu perdeu muitos domingos com essa tristeza e sofrimento. Antecipava a despedida lidando com ela desde o primeiro minuto do domingo. Não conseguia compreender que as despedidas viriam, mas que era possível aproveitar, nem que fosse um sorvete no bairro ou um filme corrido. Um episódio de série. Um passeio em uma praça. Naqueles momentos não conseguia. Era o que dava para fazer. Sofrer por “chatice domingueira”.

Em alguns semestres pude ir embora às segundas, liberando os domingos para curtir mais tempo. Coitadas das segundas-feiras, se tornaram alvo do seu ódio.

Jova
Enviado por Jova em 04/05/2021
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