Ser de plástico

SER DE PLÁSTICO

Um suspiro. E a primeira lágrima. Dúvida: então, qual seria o próximo passo? Ligar a televisão? Gritar e espernear? Chamar o vizinho? O amigo? Não, amigo não. Amigos não existem. Eles são apenas metáfora de alguma coisa boa. E coisas boas geralmente não acontecem. Elas, assim, estalam, dão um sinal que nos deixa entusiasmados mas, num piscar de olhos, nos passam a perna e desaparecem. “Ah, peguei você! Você quase, por um instante, foi feliz! Mas eu peguei você! Adeus.” É assim, amizade também é assim. Você pensa, mas na realidade não é. Somente os tolos crêem nisso. São cegos, pobrezinhos! Não sabem nem discernir as coisas: alegria x falsidade. É muito fácil enganar as pessoas. Você já tentou? Diga-lhe. Diga-lhe por um instante que ela é especial para você e que a tem com muito amor no coração. Simplesmente, num segundo, ela cairá em seus braços e despejará sobre você todo aquele amor que vinha guardando para o verdadeiro sonho de encontro de sua vida. Enganar é fácil. Eu venho aprendendo. Talvez use desse recurso para fazer novos amigos. Para conquistar amores e felicidades. Tudo isso é falso, mas, por um prazo chamado vida, eles seriam de grande valor. Mesmo de plástico. Mesmo de mentira. Fazem falta. Têm-me feito. Talvez eles ainda queiram estar comigo. Eu não me importaria. Sinto-me pessimista. Afinal, felicidade não existe. É pura ilusão. Quero sonhar. Quero iludir-me. Mesmo que eu acorde. As coisas de plástico também têm seu valor, bem como as verdadeiras. Esse valor me seria suficiente. Traria-me alegria... Se é que ela existe. Volto a ser pessimista. Volto a ser de plástico. Mas, por serem de mentira, as coisas de plástico duram pouco. E eu, verdadeiro, morrerei cedo. Mesmo porque, não acredito em felicidade, amigos ou amor. Não são reais. Eu sonho com eles.

Milena Verri
Enviado por Milena Verri em 05/11/2007
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