A TEIMOSIA DA ESPERANÇA.

Caminhar para barrar apurações, da lava que desce do vulcão da corrupção, nessa saga política humana de menosprezo aos que chegam ao Poder, revela o perfil desprezível dos que transigem escondendo culpas, dos que cedem para não ter necessidade de exigir, dos que dão a fim de que nada lhes peçam, dos que tudo externam por se divorciarem de suas obrigações, e o fazem pela retórica do autoritarismo.

Esse quadro de recenticidade no Brasil é espelho da história. O que incomoda é a intensidade e o total desrespeito à lei, acompanhado do enredo de bastidor que não foge à media inteligência.

Foram-se nossos direitos no manuseio das verbas. Grassa a pobreza, extinguem-se as conquistas mínimas, amordaça-se a educação, fogem os princípios que não se reservam, pois seus nobres abrigos inexistem. Fecharam-se.

José Guilherme Merquior, notabilíssimo diplomata brasileiro, dizia falando sobre a revolução francesa, que “os duzentos anos que separam de 1789 comportaram acontecimentos que é preciso novamente rememorar para estudá-la e compreendê-la ...” e conclui que “do Iluminismo à Gulag a consequência seja boa, nem mesmo que a democracia comporte de maneira necessária uma guinada no sentido da sociedade totalitária.”

José Guilherme antes mesmo de assistir à queda de ícones totalitários já sentia o temor de suas proximidades e advertia : “O que surpreende não é que alguns ainda detestem a revolução francesa; porém, mais que isso, que aqueles que declaram amá-la desconheçam sua força e seus efeitos.”

Seja qual for a atuação nesse ou naquele setor social dessas responsabilidades, fazem perigar a pacificação, fazem estremecer bases conquistadas e perenes, fazem desequilibrar certezas estabelecidas.

Ninguém de boa-fé, como se crê seja o perfil humano, quer, pretende, deseja ou elege como paradigma a corrupção, muito menos para agremiações políticas representativas que preenchem órgãos públicos.

E esse tem sido o motor de movimento, diga-se, plural.

A corrupção humana, predadora, repulsiva e intensa, é presença forte em todas as atividades, se alastra e ganha corpo faz muito tempo, não tanto como se lê em passagens atípicas antropologicamente, de quem nada conhece de antropologia lançada na comunicação em geral, entendendo equivocadamente estar ela presente a partir do homem das cavernas.

Vinda de “boca política” compreende-se a vontade de autenticação. Não é assim e só néscios assim entendem, introduzindo-a como corriqueira na gestão social e como mal necessário; o mal não é necessário, pontificava São Tomás de Aquino, repito sempre. Quando um fato afasta um mal e o mal permanece, esse outro também entra no rol indesejado e torpe.

A corrupção não começou na caverna. Nesse estágio humano pela força, maior valor mensurável então, se fazia valer a sobrevivência, inexistindo tal traço negativo de caráter por não existir o próprio caráter como patrimônio pessoal.

A corrupção serve ao corrupto para acúmulo de riquezas. Ao homem da caverna bastavam-lhe a caverna (abrigo das intempéries e dos animais) e a caça em razoável território onde a encontrava.

Não possuía o engenho da influência nem os meios e modos para os discursos estéreis e inscientes. Predominavam a inocência, a ingenuidade, o instinto, contida a força no limite necessário.

Como sempre refiro e incide na obviedade, o homem criou a sociedade politicamente organizada e o preço foi sua ingenuidade.

A sociedade deu-lhe a consciência, ensinou-lhe a virtude e sequestrou sua inocência. Aqui surgiu a corrupção com o Estado/Gestor, nunca na caverna como dito por alto representante político nesse nefasto ano.

É disso que nos fala Merquior, não podemos desconhecer a força e o efeito das sinalizações da revolução francesa.

A visão de uma votação de expressão como a então de Fernando Gabeira para o parlamento, dava a nota de uma força. São essas forças que dão nota aos efeitos e nelas estão depositadas nossas esperanças. Ainda pode acontecer tal fenômeno.

As disponibilidades do bem podem não acabar com o mal, mas o reduzem.

A luta pelo direito é a batalha da razão, não da força, o abrigo da compreensão que é norte da comunhão de todos, a sabedoria na busca do ideal maior, sem fraturar o império da lei, que afasta o discurso que não encampa a ética e a moralidade na condução da coisa pública, regra impositiva de nosso artigo 37 do Ordenamento Fundamental a que todos nos devemos curvar, sem exceção.

Recusar fortemente a insidiosa corrupção que retira de todos nós direitos invioláveis deve ser nosso objetivo, posto que conquistados na certeza de que muito sofrimento e sangue, como acontecido na revolução francesa, existiram, embora sejam páginas viradas para ensinamento dos homens, com didática pouco prevalente, subsistindo a amarga corrupção que solapa o crescimento de todos, fruto da ordem social mal construída, insana, decrépita, instável e voluntariosa.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 20/05/2021
Código do texto: T7259656
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