EXCEÇÃO DA REGRA

Um domingo ensolarado, como normalmente são os dias no Nordeste. Semana cansativa, pandemia, aulas remotas, mães reclamando que seus filhos não estavam conseguindo fazer as tarefas e aquele sol causticante, era muita coisa pra minha cabeça. Precisava espairecer um pouco.

Decidi sair de casa. Quem sabe um passeio pelo interior, estrada de terra, porcos, cabras e galinhas atravessando a estrada. Os buritizais, mangueiras, cana-de-açúcar nos brejos, certamente seria um alivio pro meu corpo inteiro. Entrei no carro e segui pela avenida de saída da cidade que dava acesso a BR, bastava atravessá-la e seguia para o interior. Tudo que eu desejava, palpitava no peito, uma sensação de liberdade. Antes de chegar na BR o carro estancou: problema mecânico. Pensei ainda em desesperar, porém agindo assim, não iria ajudar em nada. Problemas mecânicos em carros é comum e o meu provando que não era exceção.

Meio dia, o sol a pino e ninguém passava pra pedir uma carona até a cidade. A temperatura do asfalto provocava vertigens na visão. Caminhei cerca de um quilometro de volta imaginando onde encontraria um mecânico àquela hora e num dia de domingo. A rodoviária e os bares em volta eram ponto de encontro dos que nada tinham pra fazer e iam ali procurar diversão. Me indicaram um mecânico que estava sentado no balcão de um bar e fui até ele. Relatei a situação e o que possivelmente seria o problema do carro. Pelo diagnostico dele, não era possível solucionar o problema no local, era preciso levar o carro pra oficina. Mas dois problemas surgiram: encontrar um carro e uma corda para guinchar o meu carro. Comecei a perceber, que a paz que eu tanto procurava, não fazia parte daquele domingo.

O mecânico continuou encostado ao balcão do bar me esperando, enquanto saí procurando um carro e uma corda. Retornei no carro de um amigo e passei pra pegar meu anjo da guarda. Ele tomou a dose que já estava no copo e entrou no carro dizendo que não me preocupasse, pois aquele era apenas a segunda dose do dia. Nem me importei se era ou não verdade o que dizia, só queria que me tirasse daquele sufoco. Se bem que pinga com o calor que estava no momento, não era uma boa mistura.

Amarramos a corda nos carros mantendo uma distancia de sete metros entre eles. Não perguntei se sabia dirigir, pois é sabido que todo mecânico que se preze é um bom motorista. Além do mais, não iria precisar dos pedais, o freio vez em quando, nem do câmbio. Apenas da direção. A viagem seguia tranquila, a velocidade de 20km/h no máximo e ele confortavelmente, me seguia. Percorremos uns 100 metros pra fazer o contorno na avenida e voltar pra oficina. Eu já havia concluído o contorno quando de repente ouviu o estalo da corda se rompendo. Olhei pelo retrovisor e vi meu caro já de pneus pra cima. Isso mesmo, ele conseguiu tombar o carro sendo guinchado. Corri apressado até o carro e ele já do lado de fora batendo as mãos na roupa como estivesse sacudindo a poeira, estava atordoado.

̶ O que aconteceu? Como conseguiu fazer isto? Fui logo atropelando ele com perguntas, embora a vontade fosse mesmo, de mata-lo. Respirei fundo procurando me acalmar e compreender a situação. Carros tombarem também é normal, e outra vez o meu provou não ser exceção. Desde o princípio já sabia que aquela mistura de pinga com uma temperatura de quase 40 graus não iria terminar bem. Porém ainda chateado, perguntei:

─ Você não sabe dirigir? Ele com uma cara de inocente, respondeu:

̶ Estou aprendendo. Esta minha segunda aula de direção.

Eu não sabia se chorava ou sorria dos acontecimentos do dia. Olhei mais uma vez meu carro capotado e de todo acontecido, tinha uma única certeza: Se havia algo ali que representasse uma exceção da regra, era o mecânico.

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 05/06/2021
Reeditado em 06/06/2021
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