Fique calmo

Passamos por contratempos constantemente. É da vida! Uma chuva inesperada que nos deixa encharcados na hora de um compromisso, um dente que quebra em meio a uma reunião de negócio, um cartão bancário que fica retido em um caixa eletrônico em pleno final de semana, a bagagem extraviada num avião contendo o material que será usado, logo cedo, em uma reunião, e por aí vai. Todos estamos sujeitos a esses pequenos “acidentes”. O que vai nos diferenciar é a forma como reagimos a eles.

Já me irritei demais diante de situações como essas, até que um amigo me presenteou com o que ele chama de “lei da vaca”. Fazia ele uma viagem com a esposa e iam discutindo sobre os seus costumeiros atrasos aos compromissos. Como se tratava de uma situação recorrente costumavam trazer à tona brigas passadas, o que o irritava ainda mais. Até que o trânsito foi ficando lento. De repente o motivo da desaceleração do tráfego surgiu, sob a forma de um rebanho bovino. Atravessando a pista, como se a estrada fosse delas, um monte de vacas, impassíveis, por mais que buzinassem para que elas saíssem do caminho. Algumas até mugiam, como se estivessem entoando aquele hit antigo do “tô nem aí”, diante do buzinaço. Foi a partir daquele momento, espelhado nas vacas, que ele aprendeu a ser mais paciente e tolerante. E a presentear os amigos com a sua descoberta: a lei da vaca!

O certo é que aprendemos muito na observação das pessoas diante de situações inesperadas. Vivi um momento desses em uma viagem de avião. De repente o piloto anuncia que o voo que aterrissaria em Recife, por motivo de pane elétrica na pista do aeroporto, seria deslocado para Natal. Bom para os natalenses que teriam a sua chegada antecipada, mas péssimo para os de Recife que só estavam a meia hora de casa. Aborrecimento para uns, alegria para muitos.

E tudo concorre para que os aborrecimentos aumentem. Apesar do anúncio ter sido feito com cerca de meia hora de antecedência, os funcionários da empresa aérea não haviam sido comunicados, e tivemos que esperar mais alguns minutos, sentados na aeronave, até que as pessoas fossem encontradas, para que pudéssemos descer do avião.

Em terra, somente um funcionário para lidar com a irritação de quase cem pessoas. As alternativas de retorno às cidades de origem não atendiam a todos. O ônibus, por exemplo, que deslocaria os passageiros de João Pessoa, só na espera de uma autorização para viajar, demorou mais de uma hora. A perspectiva de chegar em casa, que para uns era de uma hora, passou a ser cinco da manhã. Some-se a isso tudo que, um mínimo de gentileza, como por exemplo, oferecer água às pessoas, nem isso constava do manual de atendimento da empresa. Enquanto isso, as pessoas iam inchando feito sapo.

Até que surgiu uma pessoa que, diante de tanta irritação, proferiu a frase que acalmou, pelo menos os que estavam próximos e puderam ouvir: “- Pior seria se, em vez de desembarcarmos em Natal, o avião tivesse caído. Aí sim é que teria sido ruim.” Ouvimos e calamos. Precisa dizer mais alguma coisa? Sim: Keep calm!, como as camisetas anunciam, ou cantemos, como Lenine, “um pouco mais de paciência”.

Fleal
Enviado por Fleal em 08/06/2021
Código do texto: T7273969
Classificação de conteúdo: seguro