FUI UM CARETA

La no meu tempo de ginásio, que foi um pouco mais tarde que o da maioria, pois da quarta série para a quinta, tive um inevitável intervalo de seis anos, um papo muito comum entre a moçadinha era mais menos assim: o importante é viver o hoje, o amanhã a gente vive quando chegar. Não tem como discordar disso, pois pra viver o amanhã tem que esperar ele virar hoje.

Eu que já estava acostumado com a minha vida de careta, pois nunca peguei os baseados e as bolinhas que tantas vezes quiseram me dar, nem me entreguei aos solventes, eu trabalhei diariamente com eles desde os quatorze anos, achava o papo da moçada um tanto sem razão, pois o amanhã sempre chega e se não nos preparamos para ele, poderemos nos dar mal ou correr o risco de um sofrimento desnecessário.

Daqueles companheiros que me ofereceram as drogas, alguns morreram ainda muito jovens, perdidos no próprio vício, em acidentes em consequência dele, ou nas cadeias e na bandidagem. Há anos não tenho notícia de mais ninguém, os sobreviventes que reencontrei há muito tempo, estavam muito mal de saúde.

Apesar da minha caretice tomei porres que não deveria ter tomado e fui a lugares que se tivesse mais juízo não teria ido.

Fico pensando que eu poderia ter sido menos comportado naquele tempo, só não sei se estaria aqui hoje escrevendo.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 07/07/2021
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