Prazo de validade

Envelhecer tem seus poréns. Com o passar do tempo o organismo passa a apresentar reações estranhas e nada funciona mais como antes. A cada dia aparece dor num canto diferente. Tudo vai ficando entrevado. É claro que um pouco de exercício físico, musculação, ajuda um bocado. Mas nada se compara ao bom humor, à postura positiva que se assume em relação à vida.

Por que eu digo isso? Pela minha idade é claro que eu conheço, e convivo, com muitas pessoas com o “prazo de validade” próximo ao vencimento, muito embora, felizmente, esse tempo esteja cada vez mais se espichando. Pessoas acima dos noventa anos, por exemplo, (Fernanda Montenegro, conhece?) estão cada vez mais se esbarrando na gente, o que comprova essa elasticidade. Os de oitenta, é só ouvir: Roberto Carlos, Ney Matogrosso, e por aí vai.

Apesar dessa extensão etária, e com as “dores e delícias” que o tempo traz, a forma como encaram a vida faz grande diferença. A maneira como uma simples pergunta é respondida, já diz bem sobre o humor da pessoa. É só perguntar: “- E você, como é que está?”, para ver a resposta que vem. E vai desde um “vou levando”, ao esquisito “estou contando o tempo”. É claro que não vai nada bem para quem “está levando” ou para os que contam o tempo passar até chegar a sua hora da partida. Essa postura pessimista em relação à vida em nada favorece o funcionamento do corpo. Se, com o passar dos tempos, as “juntas” naturalmente já emperram, parece que para quem adota essa forma de ver a vida de maneira negativa, o funcionamento da engrenagem tende a emperrar mais facilmente. E tome médico e tome remédio.

Convivi intensamente com duas pessoas idosas, ambas na faixa dos noventa anos. Ela, mesmo com uma vida atribulada pelas desventuras de perder filho e neto, nunca respondeu às minhas perguntas “como a senhora está?”, com um “mais ou menos”. Sempre alegre e sorridente o dia inteirinho que Deus nos dá. E fazia questão de me dizer: “-Fernando, eu não sei o que é uma dor de cabeça.”

A outra pessoa com essa mesma postura em relação à vida, viveu um pouco menos, 89 anos, mas para ele tudo estava ótimo. Lembro que uma das últimas vezes que teve que ir ao hospital por conta do mau funcionamento de um dos órgãos, ligou para mim do leito hospitalar para dizer: “Estou internado, mas está tudo ótimo. Liguei para você não ficar preocupado, pensando que eu estou doente.” E assim era todo o tempo, trazendo sempre uma palavra de estímulo, de carinho e de esperança às pessoas da sua convivência. Ele reparava em tudo: um vestido novo que alguém usava, um corte de cabelo diferente, uma comida que alguém fazia, tudo era motivo de elogios, nada passava em branco para ele. Ou seja, além da sua postura positiva, fazia questão que esses fluidos fossem espalhados por todos à sua volta. Estava nele ser assim. E, é claro, que qualquer um pode também adotar essa postura. Não custa tentar.

Fleal
Enviado por Fleal em 13/07/2021
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