Nome e sobrenome

Basta nascer para se ganhar nome e sobrenome. Pelo menos deveria ser assim com todas as pessoas. É exatamente daí que vem o início da cidadania. Não é à toa que o governo se preocupa com esse fato, criando facilidades como a gratuidade da certidão de nascimento, e divulgou, por um bom tempo, usando propagandas bem criativas, a importância desse registro. É um direito de todos, portanto, ter o seu nome e sobrenome.

Com o passar do tempo razões diversas levam à incorporação de outros sobrenomes aos próprios, muitos deles sem nenhuma relação com o que está no cartório do registro civil. O genial poeta Jessier Quirino trata bem desse tema quando conta os seus “causos” relatando denominações curiosas de seus personagens, coisas que são muito comuns em cidades do interior.

Em alguns desses exemplos, ao nome ou apelido de alguém é acrescentado o nome dos pais, como Mané de Tota, Chico de Zefinha, ou até do negócio em que a pessoa ganha a vida, como Toinho da Padaria ou Zeca do Açougue. Há também o caso da associação do nome ao local em que a pessoa mora, como acontecia com a famosa paraibana Zabé da Loca. Outros perdem por completo alguma relação com o nome, despersonalizando-se, e vira, por exemplo, “o filho de fulano”, como alguns costumam ser conhecidos em lugares em que a presença do pai é muito mais dominante. Tudo isso sem falar na maior glória que é ser identificado como o “avô de ...” e tome neto por complemento.

Mas tem um outro sobrenome que pega de jeito: é o que vem associado ao nome de batismo, e que é finalizado com a empresa em que se trabalha. Quem não conhece um André Silva, da Petrobrás, ou um Francisco Diniz, da Embratel? Nas ligações telefônicas não basta que se fale apenas o nome de batismo. Haverá sempre do outro lado alguém a perguntar: Fulano de tal de onde? E assim o nome da empresa vai se incorporando ao da pessoa, como se fizesse parte da sua identificação civil.

Perder esse complemento do nome pode ser algo traumático para muita gente. É que nem sempre eles são deixados de lado por opção ou porque chegou o tempo da sua aposentadoria. Outros motivos sempre há e nem sempre as lembranças dos desligamentos são tão agradáveis. Mas, mesmo não querendo, a marca da empresa continua acompanhando a pessoa pela vida a fora. É como um ferrão invisível que é percebido só pela sua presença . Para muitos, as boas lembranças perduram, e o tal nome segue como um passaporte, uma palavrinha mágica a abrir novas portas para se enveredar na busca de outros sonhos, findos aqueles que foram tão bem sonhados por lá. Felizes aqueles que tiveram essa oportunidade e, com orgulho, ainda carregam esse sobrenome consigo. Comigo foi assim...

Fleal
Enviado por Fleal em 27/07/2021
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