Das Minhas Lembranças 7

O que facilitava a minha atuação era o fato de ter exercido por cerca de três anos, duas funções que me permitiam circular pela fábrica e construir uma relação positiva com muitos companheiros. Depois que fui trabalhar no escritório, precisava arranjar um "motivo", pra retornar ao interior da fábrica. Motivos não faltavam.

O fato de trabalhar no escritório me levou uma questão: teria a confiança dos companheiros?

Para conquistar esta confiança, eu não podia vacilar. O mesmo, imagino, acontecia com Berzé. A convicção ideológica foi decisiva para superar minhas dúvidas, inclusive a de perder o emprego. A Belgo tinha cerca de quatro mil empregados e a confiança que estes trabalhadores depositavam em nós, exigia responsabilidades. Seu Joaquim costumava dizer: "a gente entra numa greve, mas muitas vezes não sabemos a hora de parar" e em outro momento, num discurso inflamado, Sálvio Pena encerrou: "Demos a primeira porretada na víbora e ela está zonza, vamos dar a segunda, rumo a vitória".

Tempos depois, fora da categoria, recebi a boa notícia: a oposição vencera a eleição, e o Sindicato dos Metalúrgicos de BH, Contagem e Região retornou às mãos de seus verdadeiros representantes.

Por um erro de avaliação, companheiras e companheiros combativos, como Zé Vieira e Mariza Lopes ficaram de fora da nova diretoria. Acreditavam que compondo com João Silveira e Ildeu, ganhariam o sindicato "por dentro".