Discursos

Uma das coisas que aprecio é a leitura de seções de frases de revistas e jornais. Já que não dá para acompanhar tudo o que as pessoas falam, o pinçamento dessas frases acaba atraindo a atenção para o fato completo. E nessa leitura encontra-se de tudo. Bizarrices, ideias criativas e até as histriônicas, que levam a boas gargalhadas. O critério para a escolha das frases não é, necessariamente, o da pessoa ser famosa. Elas até estão mais presentes, mas pode ser alguém sem nenhuma visibilidade pública, desde que a frase traga algum conteúdo, digamos, inusitado. Selecionei algumas delas, devidamente aspeadas, para se ter uma ideia não apenas dessa minha “cachaça”, mas do que as pessoas são capazes de dizer.

“Discurso é igual a vestido; não pode ser tão curto que escandalize, nem tão longo que entristeça”. “Os medos que eu tenho? Em primeiro lugar, a calvície; em segundo, a velhice; em terceiro, vocês imaginem...”. “Querida, você vai acreditar no que os jornais estão dizendo?”. A cabeça tem esse formato para que as ideias circulem”. E por aí vai. Uma que fez sucesso nesta seção de frases veio de um político que numa cerimônia para fugir ao tradicional agradecimento às autoridades presentes, saiu-se com esta: “quem não quer que leia os nomes, levante a mão”. Mesmo reconhecendo a esquisitice da fala, que mais parece coisa de programa de auditório, é provável que muitas pessoas, assim como ele fez, já tenham pensado em “chutar o balde” dessa chatice de nomeações.

Já participei de vários eventos com discursos a granel, em que cada pessoa que é chamada a discursar recebe um monte de fichinhas com nomes de autoridades presentes, para saudá-las, uma a uma. Ao chegar ao segundo discurso é claro que não há mais quem aguente aquele “repetir o inquieto repetitório”, tomando emprestadas as palavras do poeta.

Mas não para nas citações, pois se assim fosse poderia até ser rápido. Cada orador se dá ao direito de, ao referir-se a alguém, contar uma história sobre essa pessoa. Com isso as saudações ocupam parte da oração, que poderia ser reservada ao discurso propriamente dito. E haja paciência...

Lendo o cerimonialista Carlos Takahashi, autoridade no assunto, encontrei o que ele pensa sobre isso. “Não há necessidade de cada orador citar todas as autoridades já nomeadas pelo mestre-de-cerimônia; com isso ganha-se o tempo do evento, tornando-o mais objetivo”. Para ele pode-se simplesmente dizer: “Ilustres componentes da mesa”.

Outra coisa que se vê nessas ocasiões é a concessão de títulos de doutor a quem nunca pisou numa faculdade, e muito menos obteve o título acadêmico de doutor. Para Takahashi o uso do Doutor será estritamente aplicado às pessoas que fizerem jus a esse título. O tratamento senhor já defere respeito suficiente”. Por enquanto deixemos de lado o “sua excelência”, pois não se sabe o palavrão que vem após a sua pronúncia.

Fleal
Enviado por Fleal em 03/08/2021
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