Das Minhas Lembranças 8

Estamos em 1972, em pleno período do chamado "milagre econômico brasileiro". Enquanto isso, nos porões da ditadura, pessoas são torturadas, mas a imprensa, sob censura ou em conluio, silencia.

A primeira função que exerci na Belgo foi a de estoquista, embora na

carteira constasse balanceiro de expedição. Chegara recentemente a Contagem, vindo do interior, e só pensava numa colocação. Trabalhar na Belgo era como ganhar na loteria, me diziam. O emprego me permitiu deixar a casa do meu irmão, Altair, que viera para Belo Horizonte próximo ao início dos anos sessenta. Ele e sua companheira Said me acolheram em sua casa própria, no bairro JK, em Contagem.

Fui apresentado ao meu chefe imediato, Garrido e em seguida tive contatos com os colegas Gerson, Zezinho, Garapa, Expedito, João Reis, Edi, entre outros. Alguns meses depois chegariam o Rui Barbosa e o Nélio. Trabalhávamos no Ponto 1, sendo o chefe do setor, Claudio Penna. O encarregado do outro turno era o Magela, com quem tive um desentendimento tempos depois. Muitas vezes o balanceiro de um turno precisava fazer hora extra, aí ficava sob as ordens de outro encarregado. Meu expediente começara às sete da manhã e já era cerca de 21h quando o Magela se dirigiu a mim aos gritos. As plataformas de carregamento estavam lotadas de carretas, com dois motoristas de empilhadeiras chegando para a pesagem. Abandonei o posto, dizendo a ele que se virasse. Bati meu cartão de ponto e fui embora, deixando-o na "rolha", como dizíamos, ou seja, cheio de trabalho. Cheguei ao trabalho no dia seguinte, com receios de ser demitido, ou de receber alguma advertência. Mas nada disso aconteceu. O Magela, um encarregado casca grossa, não me dedurou. Enquanto o Garrido, todo sorriso, tapinha nas costas, por qualquer vacilo, levava o caso para instâncias superiores.