Pau que nasce torto...

Experimente complementar as frases a seguir: Em terra de cego..., filho de peixe..., quem ri por último.... É provável que as suas respostas tenham sido: quem tem um olho é rei, peixinho é, e ri melhor. Bingo? Caso tenham sido essas as suas escolhas, você agiu como grande parte das pessoas para as quais esse mesmo exercício é proposto. Acostumadas ao adágio popular, nada mais natural que, no momento em que uma parte dele aparece à frente, queira-se complementá-lo com a sua forma frequente e mais conhecida.

O que você diria se essas mesmas frases fossem completadas assim: Em terra de cego ... quem tem um olho é caolho, filho de peixe ... morre se ficar muito tempo fora d’água ou quem ri por último ... entendeu a piada depois dos outros? Pode-se até imaginar que você riu diante dessa nova possibilidade. Bingo de novo? Essa tem sido a forma como as pessoas reagem quando são colocadas diante dessa nova alternativa. Faz sentido essa nova complementação? Certamente que sim, muito embora seja diferente de como se está acostumado a utilizar o ditado popular. Aqui não se trata de uma questão sobre se desta nova forma está certo ou errado. Essa nova alternativa apenas é diferente, foge ao convencional e exatamente por isso provoca o riso e talvez o questionamento: por que não pensei dessa forma?

Tudo isso pode parecer para alguns apenas um breve exercício, sem muita importância, mas é certo que ele permite fazer algumas reflexões.

Em muitas situações age-se automaticamente, de acordo com um conhecimento anterior. Muita coisa funciona dessa forma na vida. E ai das pessoas se não fosse assim! Aprende-se desde cedo, por exemplo, que a faca corta, que se leva choque elétrico colocando o dedo numa tomada, entre muitas outras coisas que são importantes até para a sobrevivência. E quem não acreditou quando lhe disseram isso, amargou cortes ou choques, antes que esse conhecimento fosse internalizado. Já pensou se as pessoas tivessem que começar um novo aprendizado toda vez que fossem colocados diante dessas situações? Quanto tempo não se perderia para descobrir aquilo que já haviam experimentado antes!

O problema é que as pessoas se acostumam tanto com as coisas que acabam como cegas diante de uma situação, e nem sequer pensam em outras alternativas que elas podem oferecer, tal qual acontece nesse exercício. E assim age-se em muitas situações da vida, seja em casa, no trabalho, na igreja, na política (nesses tempos, então...) e em muitas outras ocasiões.

Baseado nisso, reveja as várias situações do seu dia a dia. Pense em alternativas com as quais você não está acostumado a lidar. Veja as coisas de outro ângulo. Por exemplo, mude o seu percurso para o trabalho, converse mais com quem você normalmente apenas cumprimenta, leia e ouça pessoas que têm o pensamento contrário ao seu, enfim, passe a fazer as coisas um pouco diferentes do seu padrão rotineiro. Quem sabe você não vai se deparar com belas surpresas?

A propósito, como você complementaria agora a frase do título desse texto? O que você acha de “dá mais trabalho pra desentortar”? Parece que faz sentido, não é? Dá trabalho, mas desentorta.

Fleal
Enviado por Fleal em 14/09/2021
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