(Imagem do Google)
 
Bom apetite?

Hoje, dia Mundial da Alimentação, gostaria imensamente de trocar essa imagem por uma mesa posta na varanda, forrada com uma toalha branca, estampada de florezinhas do campo com seu barrado de crochê.  Sobre a mesa,  o desfile de  nossas riquezas gastronômicas:   franguinho com quiabo mineiro,  acarajé baiano e de sobremesa o bolo de rolo pernambucano , sem falar nos doces do Sul do Brasil e nas infinitas iguarias  de todas as regiões  desse país .  O momento é de reflexão,  compaixão,  devido aos mais de 116 milhões de brasileiros que estão em situação de insegurança alimentar, um eufemismo a meu ver, pois esse número  ultrapassa mais da metade da população do nosso país. Desses 116 milhões, 46  não se alimentam como deveriam, com qualidade e quantidade suficientes. Dezenove milhões têm   pressa e urgência de atender as necessidades do corpo que clama por comida.  Dizem as pesquisas:   - aqueles que estão  na linha de pobreza extrema são mulheres de periferia, chefes de família, com baixo nível de escolaridade. Enquanto isso, em maio desse ano  ,  notificou-se a imprensa nacional que foi servido ao Mandatário desta Nação  , um corte de picanha "wagyu", raça de origem japonesa,  considerada a mais saborosa e cara do mundo. Sinto-me constrangida em transcrever o valor do quilo da tal picanha. Não sei se perdemos a capacidade de indignação, mas que é de doer o coração, ah, isso é...   
  
(...)
"Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade..."


Manuel Bandeira, na década de 40, em seu poema "O Bicho",  transformou o cenário desolador dos grandes centros urbanos  de nosso cotidiano em versos poéticos, versos esses que se repetem ,  pessoas cambaleando, jogadas à própria sorte,  esmiuçando as lixeiras de bairros nobres. Reciclagem? Sim , da própria vida, tão sofrida! 

"E agora ,José?
(...)
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!"


 A solidão, a falta de esperança e a sensação de estar perdido na vida, tão presentes nesses versos de Carlos Drummond de Andrade e tão sentidos pelo  seu companheiro de algumas  horas!
-Por favor, Poeta, não vá-se embora!
 
                                                      
 







 
                                                      

 
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 16/10/2021
Reeditado em 17/10/2021
Código do texto: T7365218
Classificação de conteúdo: seguro