O Rio de Janeiro e a lista das cidades para se conhecer . 

 

-Eu nunca fui e também nunca irei ao Rio de Janeiro.

Afirmou, logo após entusiasmado eu disse que havia passado alguns dias na denominada "cidade maravilhosa".

A afirmação me intrigou, foi como uma ducha de água fria, achei um atrevimento cortar minha felicidade de rever o Rio, depois de algum tempo. Foi como se a minha fascinação pelo Rio fosse algo desprezível.

Tentei disfarçar minha irritação, mas já com o sorriso inicial defeito de forma abrupta pela afirmação dele falar nunca ter ido, mas minha indignação não foi  tanto o fato de dizer que nunca foi ao Rio, inclusive é admissível, pensando, talvez por falta de oportunidade, mas dizer que nunca irá? Isso já foi demais.

Achei desaforo , o que me instigou a continuar o diálogo, porque até então não seria eu radical a ponto de dizer: "não converso com quem nunca foi ao Rio de Janeiro" mas talvez por tamanho desapontamento, não iria querer mais papo com quem, sei lá porque, diz que nunca irá visitar a cidade maravilhosa, pois com certeza ela faz parte da maioria daquelas listas que as pessoas fazem dos tais "lugares para conhecer antes de morrer".

-Qual o motivo por você dizer que nunca irá ao Rio de Janeiro?

Persisti curioso, dando a ele oportunidade de alguma explicação que pudesse ser convincente.

A interrogação tem um contexto, porque a cidade habita meus sonhos de infância e exerce sobre mim um prazer inigualável e sempre ao percorrer suas ruas, fico extasiado com tanta beleza.

Aflito por uma resposta, levantei o olhar em sua direção esperando a explicação por tamanho argumento absurdo.

O que ele prontamente respondeu:

-Tenho medo de bala perdida.

Confesso que ao ouvir isso, tive uma mistura de reação de espanto pelo temor do meu amigo com o Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em uma atitude empática pensei como ele vê o Rio de Janeiro? Talvez como cenas de filmes de um faroeste.

Só que não é bem assim.

Imagino que ele pensa que a todo momento deparamos com tiros pelas ruas da cidade.

Será efeito do enorme destaque que a mídia tem em relação a esses fatos?

Penso que a preocupação que fez meu interlocutor dizer que jamais iria visitar o Rio definitivamente não se justifica.

Dizer que não existe violência, seria ingenuidade de minha parte mas não imaginei que o motivo de alguém não querer conhecer as belezas da cidade mundialmente famosa, seria a apreenção de uma "bala achar o infeliz".

O que ainda completou em tom de piada:

-Sabe, não é bala perdida, é uma bala que acabe me achando...

Concluiu com um sorriso imaginando que havia feito uma inédita anedota.

Depois daquele dia, não mais conversei com ele.

Achei  tola sua explicação ao se referir a cidade que tanto contemplo.

Vou continuar indo ao Rio de Janeiro, sem temor de passear pelos incontáveis "cartões postais", também não vou ficar neurótico como meu "ex-amigo" observando nos barulhos que possam ser de bala, esperando que elas jamais ocorram e se ocorrerem, que elas nunca me achem ...

Agora, para evitar aborrecimentos, tomei uma decisão: não converso mais com quem diga que não pensa,e não queira nunca conhecer o Rio de Janeiro.