Conversa de gaúcho: mudanças climáticas e o descongelamento do permafrost

Dois gaúchos – Manuel e Inácio – encontram-se na Praça Getúlio Vargas no centro da cidade do Alegrete no oeste rio-grandense.

Manuel – Mas olha só quem eu encontro por aqui... Que saudades, Chê! Como vais levando a vida?

Inácio – Aí é que eu me refiro! Bem de bem! Mas escoiceando que nem cavalo crioulo na doma de bocal... E tu o que contas de novo?

Manuel – Tô começando a me preocupar, Chê, com essas tais de mudanças climáticas: essa reunião da COP 26 a portas fechadas em Glasgow, Escócia, que de novo parece ter ajudado em coisa nenhuma; a insatisfação daquela líder juvenil Greta Thumberg com o baixo nível alcançado até agora com as medidas adotadas pelos países... Essas COPs nunca me enganaram: não são muito mais do que o coaxar dos sapos na lagoa à noite para a boiada dormir...

Inácio – É... E já começamos a girar na helicoidal rumo ao “ralo da pia”... E aquele bagual corcoveador escritor e professor, famoso e respeitado – o tal de Leonardo Boff –, escrevendo sobre o fracasso da COP 26, criticou a razão moderna, instrumental e utilitarista como forma reduzida de abordar e pensar o problema ambiental. E acusou a existência massiva e nociva de lobistas, pressionando os representantes de todos os povos para não acolherem as medidas ecológicas que venham a prejudicar seus negócios já estabelecidos na queima de combustíveis fósseis. É uma barbaridade!

Manuel – E o nosso instável “castelo de cartas vital” cada vez desmorona mais um pouco, Chê... Começou com a tal da pandemia há dois anos e o descalabro já está às portas com as mudanças climáticas e essas “COPs de fachada”! E quanto maior a intensidade e velocidade das mudanças, mais perto estaremos desse “ralo da pia” que falaste aí... E quanto mais perto do “ralo da pia” girarmos, maior será a intensidade e a velocidade dessas mudanças... E não tem por onde fugir! É o apagar das luzes!

Inácio – Mas bah! Que barbaridade! Será, Chê, que “morreremos de velho” ou a morte com sua foice já está nos esperando logo depois da próxima curva?

Manuel – Não quero nem pensar, Chê... E já ouviste falar no “descongelamento do permafrost”?

Inácio – Ainda não... Se for mais um golpe desses brabos de abreviar o futuro, tenho que me sentar para não cair... Mas fala logo: Que troço é esse aí?

Manuel – O permafrost é uma terra permanentemente congelada no Ártico e região próxima da Sibéria com cerca de três metros de profundidade predominantemente numa extensão correspondente a três países como o Brasil. Está entre os próximos pontos vulneráveis do aquecimento global. Ali estão armazenados contingentes enormes de gás metano – além do dióxido de carbono – que liberados pelo descongelamento aumentariam ainda mais o aquecimento global.

Inácio – Ah! Já li sobre isso. São os tais de “gases de efeito estufa”...

Manuel – Seriam também liberadas no meio ambiente através do degelo bactérias resistentes a antibióticos, vírus desconhecidos, resíduos radioativos de reatores nucleares e submarinos e depósitos de metais pesados como mercúrio, níquel e arsênio. Ah! Entra na lista também aquele inseticida, o DDT. Isso afetaria a cadeia alimentar de pássaros, animais e seres humanos.

Inácio – O que eu quero saber mesmo é quando poderei dormir tranquilo, Chê...

Manuel – E pelo que tudo indica, o descongelamento de dois terços do permafrost ocorrerá até o ano de 2100. Mesmo assim, penso que isso pode nos consolar: faltam muitos estudos ainda para podermos quantificar os danos causados por um possível e próximo descongelamento do permafrost e estamos no outro lado do mundo em relação à Sibéria – a 180 graus. Mais longe impossível. Viva o Alegrete!

Inácio – Então, vamos comemorar! Aproveitar o dia quente e tomar um banho no rio Ibirapuitã onde ainda temos água potável e cardumes de peixes.

Miguel Wetternick
Enviado por Miguel Wetternick em 02/12/2021
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