Pérolas de minha neta Cecilia: Primeiro ato

 

Como quase todos os avôs, sou muito coruja. Estou sempre me surpreendendo com o vocabulário de minha netinha de dois anos e meio, Cecilia. Achei interessante eternizar suas falas publicando-as, ainda que o maior público seja familiar. Fora do contexto em que aconteceram, as frases são difíceis de descrever. Mas, como Cecilia sempre me pede, “tenta vovô, tenta!”, decidi tentar. Aqui vão algumas delas…

 

 

Sempre que minha netinha pede ajuda, minha filha, mãe de Cecilia, responde:

_ Tenta primeiro. Se você não der conta, a mamãe te ajuda.

Logo, em qualquer circunstância em que digo a ela:

_ Não tem jeito, Cecilia.

Ela mais que depressa responde:

_ Tenta vovô, tenta!

Mesmo quando seu pedido é maluco, por exemplo, solicitando que eu voe!

 

 

Quase todas as vezes que saímos de carro com Cecilia é uma novela colocá-la na cadeirinha no banco de trás do veículo. A mãe dela diz:

_ Rápido, Cecilia! Vem um carro ali e ele vai te pegar.

Cecilia argumenta:

_ Entra primeiro mamãe. O carro vai te matar!

A mãe de Cecilia rindo fala:

_ Você está muito teimosa menina! Senta nessa cadeirinha depressa!

Cecilia, muito séria, responde:

_ Eu não sou “temada” não, mamãe!

 

 

Cecilia sempre negocia antes de atender a um pedido. Na hora de escovar os dentes, Cecilia sempre diz:

_ Eu primeiro, eu primeiro. Depois você papai!

Mas quando chega a vez do pai dela, Cecilia sugere:

_ Agora junto, papai!

 

 

Outra dia, Cecilia estava brincando e sua mãe disse:

_ Cuidado, minha filha, vai estragar... e eu não vou comprar outro pra você.

Cecilia então falou:

_ É sua problema, mamãe!

Nada aperta essa minha netinha!

 

 

Um dia antes de dormir tomou Tylenol, pois estava com um pouquinho de febre. Ela gostou muito do sabor e queria mais. No outro dia ao acordar, Cecilia foi logo pedindo:

_ Mamãe, eu estou muito dodói, preciso tomar muito Tylenol.

 

 

Quase sempre que estou fazendo algo na cozinha, Cecilia quer “ajudar”. A princípio ela concorda em ficar quieta, só olhando. Mas nem pisco o olho e já estou repreendendo:

_ Não mexe nisso que corta!

Cecilia, pára, me olha, e tenta argumentar:

_ Eu preciso da faca, vovô. Só um pouquinho. Eu vai tomar cuidado!

 

 

Algumas vezes Cecilia fica com ciúmes do irmão dela e acaba fazendo alguma coisa errada para ganhar a atenção dos pais. O pai dela, claro, fica muito bravo:

_ Não pode fazer isso! Que coisa feia! Por que mordeu seu irmão?

Na defensiva, Cecilia explica:

_Ele puxou meu cabelo!

Quando isso acontece, Cecilia acaba indo para o cantinho do pensamento. Fica lá uns 3 minutos sozinha. O cantinho do pensamento de Cecilia é equipado com um penico, se não ela faz xixi na roupa enquanto está pensando. E, nesse caso, o castigo acaba invertido, já que somos nós quem temos que lidar com ela toda suja depois.

 

 

Um dia desses, o pai de Cecilia entrou no quarto dela e a encontrou toda séria, sentada na cama:

_ Por que essa cara brava?

Cecilia explicou:

_ A Amola teimou comigo e foi pro cantinho do pensamento!

Depois de explicar, ela tirou a bonequinha do cantinho do pensamento, colocou-a em seu colo e levantou a blusinha. O pai de novo perguntou:

_ O que está fazendo, Cecilia?

Cecilia toda compenetrada respondeu:

_ Dando mamá pa Amola!

O pai de Cecilia disse rindo:

_ A é? O papai também quer leitinho.

Cecilia desconfiada olhou para ele:

_ A Amola já tomou tudo papai!

 

 

Um dos dias em que mais achei graça de Cecilia foi quando minha filha, a mãe dela, a chamou para brincar. Cecilia levantou a cabecinha escondida atrás de seu computador de brinquedo e disse:

_Agora não, to tabalando no meu quitório (escritório), no pitador.

Daí a pouco, vem Cecilia dizendo:

_Mamãe, vamos brincar de Lego?

Sua mãe perguntou:

_ Você não está trabalhando?

Cecilia nem piscou:

_Já to muito cansada de tabalar!

 

 

Passeando de bicicleta com Cecilia, parei e perguntei:

_ Onde você quer ir agora, Cecilia?

Nem acabei de perguntar e ela disse:

_ Na ponte azul vovô!

Desanimado, questionei:

_ De novo?

Cecilia explicou:

_ A dona anana precisa ir lá, vovô!

Reclamei:

_ Onde está a dona aranha?

Cecilia riu:

_ To tilando ela do meu bolso, vovô! Cadê a fofoquinha? Tira ela do seu bolso pra ver a ponte também, vovô!

 

 

No hora de jantar, Cecilia aparece toda feliz e me convida para ir comer.

_Vovô, o papai fez minhoque pra gente comer, eu amo minhoque vovô!

Imagina meu alívio quando entendi que iríamos comer nhoque!

 

 

Outro dia, Cecilia voltou da escolinha escutando a música da galinha pintadinha e do galo carijó. Como estava demorando para chegar em casa, ela disse:

_ Papai, vamos depressa pra casa, a mamãe vai ficar com saudades da Cecilia!

Chegando em casa, o pai de Cecilia foi dar um banho nela. De repente escuto Cecilia gritando e morrendo de rir:

_ Papai carijó!

Foi a primeira piada que ela contou, mas estou rindo dela até hoje.

 

 

Quando Cecilia estava aprendendo a usar o peniquinho, seus pais faziam a maior festa quando ela fazia xixi e coco no lugar certo. Uma empolgação só! Aos poucos, Cecilia aprendeu a reconhecer a vontade de usar o penico e a avisar aos pais:

_ Mamãe, pode vir. Já fiz cocô no peniquinho.

A mãe de Cecilia toda feliz com o progresso da filha exclama:

_ Filha, você fez cocô direitinho! Parabéns!

Cecilia olha para o penico admirando sua obra de arte e dispara um:

_ Meu cocô é maior do que o do tio Tone! Eu dô dicaga mamãe.

O tio tone acaba de sair do livros dos recordes e entra Cecilia!

 

 

Brincando comigo na sala, de repente…

_ Vovô, eu fiz cocô!

Desesperado eu pergunto:

_ Na roupa, Cecilia?

Cecilia ri de mim e diz:

_ Não vovô, no pijama!

Sem entender eu falo:

_ Foi quando você acordou, né?

Afoita, ela me explica:

_ Não, vovô, agola. Isso não é roupa! É pijama. Foi sem queler. Dicupa, vovô!

 

 

Andando com Cecilia de bicicleta, eu falei que se ela quisesse fazer xixi eu a levaria no matinho. Cecilia achou o máximo:

_ Vovô quero fazer xixi no matinho!

Rindo, eu disse:

_ Aqui não, está na frente da casa do titio.

Sem paciência, Cecilia falou:

_Vovô, pega o matinho para colocar no pinico então.

Desde então, toda vez que chegamos de um pedal tenho que pegar um matinho para colocar dentro do penico:

_ Senão o xixi não sai, vovô.

 

 

Um dia desses, o pai de Cecilia estava pelejando pra conseguir prender o cabelo de Cecilia, mas nada dava certo. A mãe dela então sugeriu que ele tentasse de um jeito diferente. O pai de Cecilia disse:

_ Sua mãe é muito esperta, Cecilia!

Mais que depressa Cecilia o confortou:

_ Você também é, papai!

 

 

Como toda criança, Cecilia tem dificuldades de emprestar ou dividir o que está em seu poder. Os pais dela vivem falando “tem que dividir, Cecilia”. Brincando de escrever na lousa mágica, escrevo e mostro pra ela:

_ C de Cecilia também é C de Cocô!

Cecilia não concorda:

_ Não vovô, é só de Cecilia!

Então desenho o P e mostra para a mãe de Cecilia:

_ P de Poliana também P de Pum!

A Poliana me responde brincando:

_ Não é, não quero!

Cecilia muito séria diz para a mãe:

_ É sim mamãe, tem que dividir!

 

 

 

Pra encerrar e mostrar como minha netinha é uma menina esperta e independente (pensa num árbitro imparcial!), vou deixar aqui uma das primeiras pérolas que ela soltou. Ela tinha um ano e meio e minha filha a estava amamentando. Depois de um tempo, Cecilia parou e olhou para a mãe:

_ Mamãe, o cuco cabô!

Foi o desmame mais fácil da história da humanidade! Sozinha ela decidiu que o “suco” da mamãe já tinha acabado e não precisava mais mamar. Nem quando o irmãozinho nasceu, uns poucos meses depois, ela arriscou mamar mais, afinal:

_ Eu não sou neném, vovô! Sou crianca!

 

 

Como gosto de brincar, minha netinha só fala uma vez por dia: da hora que acorda até a hora de dormir. Já acorda cantando e conversando com as bonecas e às vezes dorme chorando porque não deu tempo de dizer tudo que gostaria. Essa fase de aprendizado da linguagem é muito divertida e encantadora. São muitas as descobertas. Garanto que todos vocês conseguem pensar em alguma pérola falada por filhos, sobrinhos e netos. Deixem nos comentários alguma frase dita pelos pequenos; alguma frase que vocês nunca esqueceram por ser engraçada ou querida.

 

 

Kennedy Pimenta 🌶