Viajando com os netos

A vida é assim: cheia de momentos. Uns bons, outros ruins, alguns controláveis, outros nem tanto e vamos seguindo. Experienciei o lado bom, recentemente, com os netos maiores, na faixa dos dezessete anos. Claro, lembrei de Sinatra e espero que um dia eles também cantem “when I was seventeen it was a very good year” rememorando os bons momentos que vivemos em São Paulo, com eles nessa idade.

Era um sonho de avô poder cruzar com eles a Ipiranga e a avenida São João para sentir o que acontece no coração de quem faz isso pela primeira vez, embalado pelos versos do poeta baiano. O local em que a cidade nasceu, o solo tocado pelos jesuítas fundadores do Colégio, a Sé, palco de tantos eventos relacionados a fatos que marcaram a vida do país, por todos esses lugares passamos. A paisagem urbana, é bem verdade, nem sempre é tão bonita de se ver. Os arredores da Catedral da Sé, por exemplo, com centenas de desabrigados vivendo sob lonas, (e não só lá!) fazem a gente pensar: como um governante, que não consegue cuidar bem da capital do seu estado, o mais rico da federação, almeja ser o presidente do país? Essa é a vitrine que ele tem para mostrar?

Os espaços internos são mais bonitos de se ver. O Museu da Língua Portuguesa, a Pinacoteca, o Masp, deram oportunidade a eles de estarem cara a cara com as meninas de Renoir, os retirantes de Portinari, a sinuosidade de Tarsila do Amaral, entre muitos outros, antes apenas conhecidos à distância, por fotos, agora num encontro presencial, vis-à-vis. Sem esquecer, claro, do Museu Futebol, local em que Pedro, o canhotinha de ouro, deixou registrado o seu gol, encobrindo belamente a barreira. O Teatro Renault, com A Fantástica Fábrica de Chocolate, foi um delírio para eles.

Outro momento especial foi o passeio no domingo pela avenida Paulista, também palco de muitas manifestações que marcaram fatos importantes para a democracia no país. Além da diversidade das apresentações artísticas variando de música, dança, aos truques de mágica, a visita à Japan House, à Casa das Rosas, com as flores em pleno vigor, colorindo a paisagem, fechando com a vista do alto do Sesc da avenida Paulista, um espetáculo singular.

Três momentos gastronômicos a destacar, pela tradição dos lugares: o café da manhã na Padaria Bella Paulista, com seu variado buffet, o pastel e o sanduiche de mortadela do Mercado Municipal que eles, apesar de serem bons de boca não conseguiram dar conta de um sozinho, além das iguarias da feirinha da Liberdade no domingo, com direito a caldo de cana. Bons restaurantes, claro, é só o que São Paulo tem. Mas essas visitas para eles eram obrigatórias.

E será que não teve aperreio? É claro que sim. Idoso convivendo com jovem e ainda mais, como diz a avó, “filho dos outros”, tem que ter cuidado especial. E aí veem os freios, nem sempre bem recebidos, tipo “levante essa máscara”, “passe álcool nas mãos” ou “não use esse celular na rua”. Apesar das repetições frequentes, ao final, mesmo com a cara de “deixa de ser chato, vô”, éramos obedecidos.

No mais, foi tudo “divino e maravilhoso” e só tenho a agradecê-los por essa oportunidade de, aos setenta, poder desfrutar dessa convivência, de maneira tão intensa, num ambiente em que o lazer e a cultura são ingredientes fundamentais. Valeu Pedro, valeu Thiago Filho. Espero que ainda possamos ter muitos momentos como esses, juntos, quem sabe com os bisnetos.

Fleal
Enviado por Fleal em 07/12/2021
Reeditado em 07/12/2021
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