Previsões para 2022 — Revelações de um misto-quente ⚫️

O que vi me assombrou. Apesar das predições que se impuseram diante de mim não corresponderem todas às minhas predileções, resolvi compartilhar o fenômeno.

Tranquilamente, depositei uma fatia de presunto e outra de queijo em cada pão de forma, fechei o lanche e — após um relâmpago, seguido de violenta eletrocução — coloquei a minha obra na sanduicheira.

Após alguns minutos, fui, automaticamente, apanhar o singelo desjejum na torradeira. De repente, a surpresa que me esfregou na cara o amanhã. O futuro próximo (2022) estava ali na minha frente. Mesmo contrariando as perspectivas lógicas, inclusive os meus prognósticos e, em alguns casos, a minha torcida, a revelação valia muito num mundo sedento por informação e num país polarizado. Havia um porém a ser levado em consideração: ao confessar que minhas preciosas revelações surgiram de um simples lanche, provavelmente, eu seria ridicularizado, acusado — por Renan Calheiros — de charlatanismo e preso por disseminar fake news. Eu estava condenado a carregar o dilema enquanto não decidisse: divulgar ou não.

De posse de inesperado, incrível e valioso vaticínio, até perdi a fome por não saber o que fazer de posse da informação. Com potencial para escandalizar — inclusive gerar um bom lucro — os resultados do jogo eleitoral e a corrida esportiva, bem como de assuntos impublicáveis, a bomba estava nas minhas mãos.

Resolvi espalhar esta experiência sobrenatural que interrompeu um simples café-dá-manhã. Eis as previsões:

▪️será complicado, mas tudo será esclarecido;

▪️no palíndromo revelar-se-ão os sabotadores,

▪️o mundo ficará atônito e tudo voltará a ser como antes;

▪️a tempestade não levará tudo, o que foi feito não deixará espaço para o novo;

▪️nem a bola de fogo cruzando o céu nem a carruagem incandescente serão necessárias, a simplicidade vencerá.

Eu sei que a decepção é grande, mas o misto-quente resolveu falar como um profeta charlatão. Não reclamei, pois um sanduíche falando já era o bastante por ser algo que não se vê todo dia. Diante de tudo o que havia ocorrido, não poderia cobrar clareza.

Lógico que eu fui surpreendido com mais e muito intrigantes predições, mas resolvi publicar informações que não alterassem o andamento natural do Destino. Por isso, evitei premonições envolvendo morte — pelos motivos já descritos — e relacionamentos amorosos. Resolvi deixar as fofocas para os programas vespertinos.

Se isso ocorresse na Idade Média ou nos anos 90, tenho certeza que me tornaria uma espécie de oráculo ou apareceria no programa do Gugu, respectivamente. No entanto, a imprensa não se importou com o fenômeno. Ser o Nostradamus brasileiro ficou no campo da mera quimera.

Obs: Se as previsões falharem, a culpa é do misto-quente.

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