O Segundo Mandamento

Um Presidente de um poderoso país disse recentemente que quer declarar os activistas antifascistas como “organizações terroristas”. Estas palavras fizeram-me recordar uma conversa entre Colegas, nos tempos aparentemente já distantes da pós-Revolução dos Cravos.

Foi uma época de grande emotividade, como sabemos! As pessoas falavam, e as posições eram muito vívidas – uns eram “a favor”, muito “prá frentex”, e outros muito renitentes, temerosos de que os Comunas (como então se dizia, em sentido pejorativo) viessem açambarcar os seus teres e haveres e "comer criancinhas"…

Já não sei o que se discutia... Estávamos num grupo de trabalho, preparando aulas. Mas as conversas derivavam! Umas Colegas defendiam o Trabalho Comunitário, a ida para a Província em "serviço cívico", outras preferiam não se pronunciar...

Os temas misturavam-se. A certa altura, falou-se da União Soviética. Da China. De Cuba! Dos direitos de Propriedade. Uma das Colegas até ali mais reservada, não se conteve e desabafou:

– Eu sou Católica! Logo, sou pela Propriedade Privada!

Perguntei-lhe:

– Estás a brincar?

– Oh, não – respondeu ela, prontamente. – Eu sou Católica! Logo, defendo a Propriedade Privada!

Perguntei-lhe então se já alguma vez tinha lido “Os Actos dos Apóstolos”. Mas não, ela nunca lera esses textos. Como tivesse ficado curiosa, recordei-lhe um episódio que li na minha juventude, e que nunca esqueci:

– Os primeiros Cristãos eram muito rigorosos e sinceros. Costumavam declarar publicamente os seus bens, para os partilharem, pondo-os ao serviço de toda a comunidade. Para que toda a comunidade dispusesse do necessário para viver, sem ricos nem pobres, sem supremacias nem indigências.

Em certa comunidade, porém, houve um casal que só declarou uma parte das suas riquezas, guardando para si, em segredo, um certo quinhão. Mas sobreveio-lhes um súbito mal-estar... E primeiro o marido, depois a mulher, ambos morreram, sem mais nem menos... E toda a Comunidade acreditou que as suas mortes tinham sido “castigo de Deus”, devido ao seu egoísmo e falta de sinceridade.

Várias Colegas naquela tarde ficaram admiradas. Não sabiam que as primeiras comunidades cristãs tinham vivido “em comunidade”, ou seja, tinham sido... “comunistas”!

Ficaram admiradas, simplesmente, porque seguem uma Religião cujos fundamentos e História desconhecem.

E porque a Propaganda, fazendo uso dessa ignorância generalizada, desrespeita o Segundo dos “Mandamentos da Lei de Deus”. Que aprendi em criança, nas aulas de Catequese:

“Não invocar o santo nome de Deus em vão”.

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Deixo aqui o excerto dos “Actos dos Apóstolos” referente a este episódio:

Actos dos Apóstolos

https://www.bibliaon.com/atos_dos_apostolos_1/

Excertos :

[ A fraternidade dos crentes ]

https://www.bibliaon.com/atos_dos_apostolos_2/

“ 41 Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas.

[ ... ]

44 Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum.

45 Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.

46 Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em casa e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração,

47 louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos. ”

[ Os crentes repartem os seus haveres ]

https://www.bibliaon.com/atos_dos_apostolos_4/

“ 32 Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham.

33 Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles.

34 Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda

35e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um.

36 José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa "encorajador",

37 vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos.”

[ Ananias e Safira ]

https://www.bibliaon.com/atos_dos_apostolos_5/

“ 1Um homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, também vendeu uma propriedade.

2Ele reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos.

3Então perguntou Pedro: "Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para você uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade?

4Ela não pertencia a você? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus".

5Ouvindo isso, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido.

6Então os moços vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram.

7Cerca de três horas mais tarde, entrou sua mulher, sem saber o que havia acontecido.

8Pedro lhe perguntou: "Diga-me, foi esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade?"

Respondeu ela: "Sim, foi esse mesmo".

9Pedro lhe disse: "Por que vocês entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e eles a levarão também".

10Naquele mesmo instante, ela caiu morta aos pés dele. Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao lado de seu marido.

11E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos. ”

Myriam Jubilot de Carvalho

1º de Junho de de 2020

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 27/01/2022
Reeditado em 27/01/2022
Código do texto: T7438867
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