Pão, mortadela e Tubaína

E era esse o lanche preferido de dez entre dez famílias aqui do interior.

Tinham algumas variações, em relação ao tipo de pão. O pão as vezes era francês, as vezes era de massa fina, as vezes era o pão doce, ou de torresmo - mas a mortadela e a Tubaína eram insubstítuiveis.

Como a minha família é de Belém do Pará, nós gostávamos mesmos era de um belo bijú de tapioca, com manteiga e café, ou faziamos a versão doce do bijú de tapioca, com coco.

Quando aqui chegamos, tudo era novidade (claro!). Não entendíamos a princípio, por exemplo, o que era a "mistura", prá gente tudo era comida, lerdo, prá gente era "blam blam blam", lagartixa sempre foi "osga", a baguete era "cacete" , prostituta era "fiti", e por aí vai.

Meu pai, militar da aeronáutica, foi transferido para o

CTA de São José dos Campos, e aqui acabamos sendo criados.

Na escola, o sotaque era destaque, nós éramos os "nordestinos"

(o povo confunde Norte com Nordeste até hoje), os nordestinos altos, alegres, que gostavam de esportes, e que falavam de um jeito dificil de entender. O que na verdade eu acho esquisito, pois mesmo as pessoas com pouco estudo na região do Pará e do Amazonas, naturalmente tem o português muito bem dito, bom, se bem que sotaque é sotaque, e lagartixa prá osga...

E ainda tinha a saudade de um bom doce de bacuri, uma pupunha de final de tarde, um açai com farinha de tapioca, um pato no tucupi no almoço, e um imenso pirarucu nos dias de domingo.

Não era comum na época que viemos prá cá, as "Casas do Norte", como as que tem hoje em dia - então ficava cada dia mais dificil naturalmente, mantermos nossos antigos hábitos alimentares.

Mas, com a descoberta do pão com mortadela e tubaína, nossas tardes mudaram.

Prá gente, era um evento (aliás em casa, tudo sempre era um evento), a mesa posta, com aquela coisa nova que era a mortadela e a Tubaina - tinhamos imenso prazer em sempre termos algum amiguinho em casa, e sempre tinha, pois eram três meninos e três meninas, eu sou a sexta, então, molecada é o que não faltava, e a minha mãe preferia receber do que deixar os filhos irem na casa dos outros, e sabe né...mãe é Mãe.

Podia ter queijo, presunto, bolo, rosca, o que fosse, mas o legal mesmo eram os três, era o que nos deixava feliz e familiarizados com a cidade, com a região. E assim, mantivemos esse hábito, por anos a fio. Mas a vida muda, os filhos crescem, vão estudar em outras cidades, casam, tem suas casas, seus filhos,seus maridos e esposas.

Que bom que existe a "visita", pois sempre que podemos, quando nos encontramos, a mesa, por mais farta que possa ser no café da tarde, sempre tem pão, mortadela, tubaína, conversa fiada, vulga "potoca", e graças a Deus, muita risada!!!

OBS: Tubaína é um refrigerante a base de guaraná, com o sabor bem mais adocicado, e infinitamente mais barato!

Além de Tubaína, é apresentada também como; Maçazinha, Guaranita, Guaraná Jesus, Campeão, Brasileirinho, e outros nomes que eu desconheço. No final da década de 90, ganhou um espaço comercial tão grande, que chegou a incomodar o mercado das "Colas".