Sem espinhos
Hoje fui apresentado, pela minha amiga Selma, a uma autêntica maravilha da natureza! Sonho de todos os amantes que vivem de coração em chamas nos encontros e desencontros do amor! De fato, ela exibia em seu jardim uma magnífica roseira, com enormes botões de promissora rosa cor de rosa, puxada ao vermelho. O detalhe é que a roseira não tinha um espinho sequer. As folhas e o caule, incrivelmente verdes, podiam ser tocados sem nenhum perigo!
Inicialmente, achei um pouco estranha aquela roseira tão inofensiva, mas logo me senti dominado por dois sentimentos antagônicos: primeiro achei incrível a ideia de se ofertar um imponente buquê ou mesmo uma rosa solitária para a pessoa amada, sem nenhum risco de incidente com os agudos espinhos. Mas, logo em seguida, me veio a impressão de que aquilo seria a morte da poesia.
Rosa e espinho historicamente, visceralmente unidos! Cantados ao longo dos séculos por milhares de poetas! A rosa simbolizando o amor e o espinho, os sofrimentos, inerentes a esse mesmo amor!
A felicidade plena, sem nenhum limite ou condição, talvez, seria oferecer uma rosa assim. Entretanto, sem espinho, a rosa perde completamente o seu conteúdo poético, passa a ser uma flor banal como tantas outras no jardim. Ninguém se importa muito com um canteiro de margaridas ou de dálias!
Comecei, então, a pensar que a rosa sem espinhos seria o tédio. Uma jornada sem desafios, sem cuidados, sem perigos, sem graça, enfim, porque o charme da rosa não está necessariamente na cor, no perfume e no aveludado de suas delicadas pétalas, mas, sobretudo, no inusitado de seus espinhos. São os espinhos que fazem com que ela seja o que é.
Não quis decepcionar a minha amiga e disse que aquilo era realmente incrível, porém, no fundo, fiquei pensando na tragédia que seria se, de repente, todas as rosas do mundo abdicassem de seus agudos e perigosos, mas também necessários, enigmáticos e poéticos espinhos.