Eu sou o Fauno do meu laberinto

Dizem que fazer tatuagem doi...não sei, a dor física é sempre supervalorizada, talvez pq ela se autodeclare "dor de fato". As outras dores que não físicas são consideradas dores menores no "ranking" de dor, "dor mesmo".

E dor mesmo, só a sua. Passei meses alugando meus melhores amigos, contei -lhes como me afligia o peito, como me dilarerara a alma, noto agora que a dor vive com um companheiro e que cedo ou tarde esse parceiro a abandona. A dor é companheira do tempo, e ela nunca quer deixá-lo. Sempre que ele ameaça partir, ela grita, lateja, late como na língua latina (espanhol) A dor faz estardalhaço, acelera o peito, te joga no chão, se apraz no desespero. A dor te quer sem norte, sem colo, sem afago no peito. A dor te deixo escuro, isolado, sem leito. A dor agarra o tempo, se enlaça com ele. É imatura. Prende. Quer durar pra sempre. O tempo a olha, sabe quanto vai ficar e a exata hora de partir, a dor TB sabe, mas ignora, prefere se debater, impedir. Quando o tempo anuncia sua partida inevitável, de tão cansada que está de latejar, a dor simplesmente se cala. Se amiúda. Se aquieta. Andei noites escuras no meu laberinto, aquele dos domínios da mente onde tudo existe e não existe de fato. Onde tudo criamos e destruímos, real ou imaginário. Observei de longe esses dois; a dor e o tempo. Distraída, avistei uma criatura, se eu a criei não sei, mas foi criada. A criatura pegou na mão do tempo, o conduziu para a saída do leberinto, e de lá ele foi embora. A dor, então, ficou calada, sem forças p fazer o estardalhaço costumeiro. Pensei estar observando o Fauno, a dor e o tempo, mas eu sou o Fauno do meu laberinto.

Quando eu fiz minha tattoo do Fauno. (04/07/22)

Évora Solitu
Enviado por Évora Solitu em 05/07/2022
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