NÃO ENTENDES A INDIFERENÇA BOLSOEVANGÉLICA? EU TE EXPLICO

Para mercenários da fé, a probabilidade de não terem mais a quem explorar soa tão ameaçadora quanto a possibilidade de não poderem mais respirar.

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VOCÊ está surpreso(a) com a indiferença de bolsoevangélicos como Silas Malafaia, Magno Malta, Marco Feliciano, Edir Macedo e Damares Alves diante das diversas manifestações pluripartidárias e plurissetoriais em prol da Democracia?

EU EXPLICO: Colocar-se espontaneamente e sem dissimulações do lado de quem defende, de fato, a Democracia é coisa que jamais sequer passou pelo pensamento desse pessoal. Se existe uma coisa que pra eles é praticamente um decreto de morte, é a consolidação de uma sociedade democrática, ainda que uma Democracia Liberal.

NA VERDADE, nenhum cristão que entenda, simultaneamente, os conceitos de “Democracia” e “Reino do Céu” – ou pelo menos um dos dois –, defende, na condição de cristão, a ambos. Seria semelhante a um vegetariano advogar, ao mesmo tempo, a favor da sopa de lentilha e do bife de carne como regime alimentar ideal.

O TIPO de sistema político e a forma de governo são tão determinantes para o cristão quanto o zero é determinante numa adição. Basta lembrar que o cristianismo nunca foi tão autêntico, tão vigoroso e tão atraente quanto quando, nos seus primórdios, tinha a completa oposição do Estado e, não por acaso, jamais voltaria a ter a mesma credibilidade, prestígio e eficácia a partir do momento que se tornou uma religião estatal.

O QUE chama a atenção nas atitudes dos nossos irmãos bolsoevangélicos não é exatamente o desprezo pela Democracia [nenhum verdadeiro cristão morre de amores por ela], mas o descaramento deslavado de se fazerem passar por defensores dela quando, na verdade, trabalham, diuturnamente, pela sua destruição.

ELES [Malafaia e sua trupe] sabem que o cristianismo não é um sistema político – é uma Religião – e, portanto, não serve como “antitese” [nem como-pró-tese"] de nenhum sistema. Jesus [o fundador do cristianismo] nunca se posicionou favorável ou contrariamente a qualquer sistema político – a não ser [favorável] ao Seu próprio, ao qual sempre se referiu como “Reino do Céu”. “O resto”, subentende-se pela forma peremptória com que rechaçou ser confundido com um aliado ou adversário de qualquer espectro político, “é a penas mais do mesmo”.

POR QUE, então, os bolsoevangélicos tanto se arvoram arautos da “Cria Liberal” (a Democracia Moderna)? Porque é CONVENIENTE.

A IMAGEM da Democracia Liberal como sistema salvacionista (justo, igualitário, seguro, próspero, pacífico, equânime... quase divino) foi algo tão bem construída e é tão bem defendida e difundida por sua idealizadora (a burguesia liberal) que, com o passar dos séculos, deixou de ser apenas mais um sistema humano, e ganhou status de uma quase-divindade – a ponto de os seus valores serem, por milhões [de pessoas], confundidos com os de uma religião como o cristianismo (embora ela tenha sido idealizada, ironicamente, para neutralizar, se possível totalmente, a influência de qualquer credo religioso nos negócios do Estado, ou seja, na política e, especialmente, na economia).

DE FATO, teoricamente Democracia e Cristianismo têm entre si mais consensos do que dissensos, a não ser por um PEQUENO detalhe: a primeira é uma proposta humana, a segunda, um ideal divino – pelo menos para os que consideram Jesus Cristo Deus.

OS BOLSOEVANGÉLICOS ou simplesmente evangéloucos sabem que, como a Democracia Liberal adquiriu status de quase-deus, se declarar publicamente contrário a ela seria, mesmo para quem tal sistema cause tantos malefícios quanto qualquer outro (a massa de empobrecidos), o equivalente a uma blasfêmia. Fingir amá-la e defendê-la, portanto, se tornou a estratégia perfeita – e também única!

NÃO HÁ, portanto, o que estranhar na indiferença dos bolsoevangélicos diante do maior consenso nacional em defesa da Democracia brasileira desde as Diretas Já, ainda no século passado (1984). Muito estranho seria se eles tivessem mudado de lado.

A RAZÃO do ódio de Malafaia [para muitos, malaFRAUDE) e sua trupe a quem contesta o liberalismo econômico (como fazem os esquerdistas), e o desprezo a quem defende a Democracia Liberal (como está fazendo agora, de forma clara, a burguesia nacional) é fácil compreender: nenhuma das duas coisas os favorece. Eles não querem uma sociedade socialista (como defendem os esquerdistas – onde mesmo persistindo a divisão por classes, o mínimo de garantia de direitos alcança a todos) nem uma liberal (como defendem os liberais), onde apesar de persistir a injustiça social, a política e a economia têm prevalência sobre a religião, a ciência é mais relevante do que a superstição e, portanto, o espaço para a manipulação e a exploração através tanto da miséria quanto da ignorância se torna dramaticamente reduzido – como já ocorre nas nações desenvolvidas.

PARA essa gente, tirar-lhes (ou pelo menos reduzir) as possibilidades de manipulação social e exploração econômica de miseráveis e ignorantes é tão ameaçador quanto tirar-lhes o próprio oxigênio. Eis a razão do silêncio!