Devaneios de uma terça-feira qualquer

O que nos permite estarmos vivos são os momentos vividos.

Aquele instante singular, em que você nem percebe que vai deixar uma marca enquanto está acontecendo, se torna uma memória que vai revisitar muitas vezes depois para tentar sentir aquilo que sentiu quando aconteceu.

Eu tenho saudades gigantes, colossais, intensas de pessoas, de momento, de tudo aquilo que marcou a minha vida de alguma forma, e algumas vezes, de mim, da pessoa que eu era quando vivenciei aquilo, porque no final do dia, da vida, quem sabe, é isso que me mantém de pé, viva, sabe?

Será que consegue me entender, caro leitor?

Eu amo me sentir assim, sentir que pertenço a algo ou alguma coisa ou alguém. Me sentir parte daqui. Antes de partir eu vou olhar para trás e quero ter a complacência de saber que eu realmente estou construindo uma trajetória bonita. Que eu realmente conheci lugares, histórias, pessoas... que eu estive aqui, nesse mundo, em que tudo é passageiro.

Nem o tempo consegue apagar o que um dia chegou a existir. Cada escolha, cada decisão, cada ação gera uma consequência. Sei que quando me for, nada disso irá comigo. Mas cada objeto que possuí, cada pessoa que toquei, cada pedacinho de vida que vivi, contará que eu estive aqui. Eu quero acreditar que dei o meu melhor e que aproveitei cada instante aqui como se fosse o último, até o dia que realmente será.

Terei vivido da minha maneira, como deveria ou não, porque eu me questiono se tenho vivido verdadeiramente – temos a mania de ficar nos comparando com os outros, como se a grama do vizinho fosse mais verde mesmo. Mas quer saber? Eu acho que tenho feito o que dá, da melhor forma que consigo, com meus altos e baixos e caos e intensidade. Independente de querer mais, que é típico de cada ser humano, eu tenho a certeza que vivo da forma como escolhi, com o bom e o péssimo. E isso é a coisa mais incrível do mundo para mim: que cada um de nós pode escolher como viver; isso é liberdade.

Mesmo assim, eu tenho saudade de pessoas, de algumas histórias que vivi e até mesmo das que não gostei... contudo, é das que eu não vivi e que poderiam ter sido incríveis que realmente sinto falta (e pena!). Mas tudo que vivi até aqui me fizeram ser quem sou hoje e a nostalgia me pega forte em alguns momentos.

Os anos passaram e as marcas permanecem aqui, antes não vistas, hoje incrivelmente descobertas. Não estou sozinha nessa imensidão, sei que não. Às vezes penso no quão somos insignificantes em meio a tudo isso que é a vida. É tudo tão desconhecido, que bate um medo, um frio na barriga, uma ânsia de ver o que puder enquanto estamos aqui.

Viver não é fácil. É duro, é mágico, é louco, é extasiante, é indescritível. Eu nem sei porque me deu vontade de escrever sobre isso, já que eu não sou nenhum exemplo do que é viver verdadeiramente, loucamente, em busca de aventura e propósito. Mas, sei lá, quero crer que silenciosamente eu vivo uma vida que vale a pena.

Eu, a pessoa que escreve isso, apenas uma garota comum (como está escrito no meu twitter), uma raposinha curiosa, uma leãozinho que usa óculos redondos e adora mbp e jazz, que tem fé, mas está decepcionada com a religião, que metódica, cheia de manias e tiques, que é intensa e ansiosa e melancólica, que é complicada, perfeccionista e adora jeans e all star, que lê demais e escreve linhas tortas que às vezes fazem algum sentido... essa pessoa aqui, amou, odiou (e como detestou gente), ficou feliz, triste, experimentou paixões incompreendidas, amores épicos, viajou para poucos lugares reais e incontáveis lugares fictícios, que chorou em filmes, livros, ao escrever textos, sozinha no quarto. Que fez amigos inesquecíveis e brigas fenomenais. Todavia, que disse a si mesma que faria de sua vida o seu próprio infinito particular. Houveram dias difíceis, mas a beleza da montanha só pode ser apreciada se você tiver coragem de escalar e chegar ao topo. Muitas vezes a vida está desmoronando, mas um pouco de leveza e fazer piadas ruins ajuda.

Não me pergunte de onde vem tanta reflexão, que eu também não sei, caro leitor. Provavelmente veio da percepção, que todo mundo tem e procura não pensar, da fugacidade da vida, que acaba de uma hora para outra. O que nos espera no final da linha? Existe um fim? Eu realmente não sei. Há tantas teorias, certezas e explicações por aí. Escolha uma e se apegue a ela. Para onde vamos, então? Depende do que você acredita, meu caro. Bom, de qualquer forma, são apenas devaneios de uma terça-feira igual a todas as outras que já passaram e das que virão. Espero que você não tenha se entediado de ler até aqui o que saiu da minha mente cansada e pensante.

De qualquer forma, eu gostaria de acreditar que em algum desses multiversos, galáxias, planetas, eu posso viver o que jamais consegui aqui nesse pequeno e extraordinário pequeno planeta terra. Quem sabe em algum dia eu faça essa grande descoberta. Qual é, me deixe delirar um pouquinho, leitor.

Quem sabe a gente não descobre que meus devaneios fazem sentido, afinal.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 09/08/2022
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