Catarse

Afinal, o que melhor define o ser humano que a capacidade de sentir, durante toda a vida, as mais intensas e diversas emoções?

Somos transpassados, invariavelmente, por uma existência construída por medos, raiva, alegrias, tristezas, prazeres e dores.

Abrimos, fechamos e remendamos nossos corações a cada saudade e a cada partida.

Nem mesmo os momentos felizes duram o suficiente para tirar, ainda que momentaneamente, o desassossego da nossa alma.

Mas, inexplicavelmente, é na hora em que a vida nos arremessa, de uma só vez, a um vulcão de profundas emoções que conseguimos, a custo de muita reflexão e lágrimas, explodir.

Eis, então, a catarse.

Quando nos encontramos à beira do (necessário) caos, quando não há mais espaço para nenhum movimento brusco em nossa alma e em nosso coração, é que emergimos, da nossa própria profundeza, e retornamos, estranhamente purificados, à tona.

Talvez, essa ascensão seja a representação mais concreta e irrefutável de uma presença divina.

Não há nada que nos derrube a ponto de que, já transformados, uma incontestável força abstrata não nos consiga levantar.

A vida, sempre, continua.

E, amanhã, certamente, será um novo dia.