Retrovisor
Vejo de relance a minha vida passar, voraz.
Nunca tive o direito à dúvida, ter de estar sempre certo sobre o desejado futuro, apunhala as costas do ansioso, não sei o que devo fazer.
Não respiro, contando com a esperança de segurar o tempo no interior de meus pulmões, mas uma hora ele escapa e o passado ri aos montes, da face espantada que assumo ao perceber.
Passou, tudo aquilo que um dia me atormentava passou, dando espaço a novas alegorias aterrorizantes que existem, unicamente, em mim. Embora passadas, as agonias anteriores me marcam, assombram.
Olho pelo retrovisor um passado distante, ao mesmo tempo que se foi, me persegue.
O retrovisor da vida não me deixa esquecer, que olhar para frente é necessário, mas enxergar o passado é o que me faz refletir, guiar a vida com mais controle, segurar o volante.
Mas se me perco, deixo de olhar o horizonte, apenas presa às imagens repetidas de um reflexo alterado do passado. Deixo o volante, perco o controle, a direção e me desgoverno, desatenta ao que poderia ser um bom futuro.
Olhando apenas o retrovisor, como saberei para onde estou indo?