NINGUÉM É UMA ILHA

Dias atrás um conhecido perguntou-me:

- O que você ganha em compor poesia e colocar na internet ? E complementou: Não vejo sentido prático nisso.

Eu poderia, naquele momento, argumentar durante horas sobre o assunto que em nada iria mudar seu pensamento. O mundo dele era muito pequeno, talvez não pudesse abarcar parte do que vai dentro da alma de um poeta.

No entanto, ao invés de retrucar ou argumentar, apenas sorri e disse:

- Existem coisas que as pessoas não conseguem explicar. O que recebo é algo que, sob seu ponto de vista não tem valor, no entanto para mim é a o máximo que se pode esperar.

- O que é? Perguntou ele.

Eu que já me sentia o dono da situação, depois daquele impacto inicial da pergunta dele, respondi pausadamente, sílaba por sílaba.

- Reconhecimento.

Ele ficou calado por alguns segundos e ainda tentou extrair de mim alguma coisa que pudesse sedimentar-lhe outras objeções:

- De quem?

Eu imaginei que havia certa dose de ironia na sua pergunta.Disse-lhe, com certo grau de maldade.

- De pessoas que têm sensibilidade, que amam, que se preocupam com alguma coisa nesse mundo.

Naquele momento, vi que ele enrubesceu mas, tentando não se dar por vencido, tentou mais uma vez, colocar-me no mesmo nível dele:

- Acha que não tenho esses “troços” aí, por não gostar de poesia?

Quando ele falou “troços”, vi que nossa conversa não poderia continuar, mas lembrei-me da máxima do Cristo que é tão citada: “Não jogueis pérolas aos porcos”, então, sorrindo, respondi-lhe:

- Sim, são esses “troços” que ainda dão sentido à vida de muita gente.

-Mas isso não dá camisa a ninguém. Enquanto falava mostrava-me a camisa nova de linho que vestia.

Eu sabia que estava falando com uma pessoa que nada vê além daquilo que possui, mas não podia de maneira alguma ofendê-lo e argumentos eu tinha de sobra para tal. Mas, afinal, o que eu iria ganhar com aquilo, descer ao mesmo nível dele?

Ele, no entanto, pareceu reforçar-se quando me calei e disse ainda:

-O que vale é isso, dinheiro, roupas, carro novo e uma vida farta. Quem sabe um dia você ainda chega lá.

Eu que estava querendo encerrar aquela conversa nada proveitosa, respondi-lhe:

- Meu caro, onde você chegou, por lá eu já passei há muito tempo, mas onde eu cheguei, você nunca irá chegar. Fui mau naquele momento.

- Como assim? Não entendi?

- Eu sei, você ainda não tem essa capacidade de entendimento. Machuquei mais ainda.

Depois daquilo saí devagar, eu havia conseguido atingí-lo e ele, com certeza iria ficar remoendo minhas palavras, tentando entender o que eu havia dito.

Eu havia me referido ao meu grau de instrução e meu pouco conhecimento, uma vez que ele era um semi-analfabeto que financeiramente havia se realizado.

Assim, eu continuarei a escrever e colocar na internet e talvez em breve possa publicar, afinal se eu crio alguma coisa, acho que devo compartilhar, já que ninguém consegue viver só.

Afinal, ninguém é uma ilha.

09-12-07-VEM.

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 09/12/2007
Reeditado em 15/08/2008
Código do texto: T770984