O homem que não queria saber

Era uma vez um homem, mas não começa como homem... Era uma vez um menino, que um dia descobriu a dúvida, e então descobriu que não gostava de saber das coisas, começou assim, com uma simples dúvida, perguntara a sua mãe: "mãe, para onde foi meu pai?”, “para o céu meu filho, para o céu...”. Desse momento em diante, ele imaginou um céu, pesado, cheio de gente, ele sabia da morte, mas não sabia ao certo do que se tratava, só sabia do tal céu, e a partir daí preferiu não saber mais das coisas.

Esforçou-se para se esquecer de tudo que já sabia, mas isto já não lhe era possível, lamentou o fato de ter que saber pelo menos um pouco, o que significava que em algum momento saberia a resposta para alguma pergunta de um alguém qualquer, decidiu então calar-se, preferiu guardar o mínimo conhecimento que tinha para si, mas tudo parecia ficar pior, onde quer que andasse, onde quer que fosse, sempre ouvia respostas, tinha vontade de gritar pra todo mundo que não queria saber de nada, calar a si mesmo era fácil, mas calar o resto do planeta era impossível, decidiu então parar de ouvir, não que ele tenha furado seus tímpanos, apenas parou de dar atenção as palavras que o circundava...

Agora, era uma vez um homem, que cresceu sem saber das coisas, não por acaso, por opção, resolveu viver assim. O tempo passou, e esse tempo passado foi bom para ele, conseguiu esquecer o que soubera na infância, até mesmo se esqueceu de seu pai e da resposta que sua mãe lhe dera. Mas sabia ele que algo lhe faltava, mesmo sem querer saber, sabia, mas como saber de algo que lhe falta sem poder querer saber, era um dilema, uma redundância fatal, que o afogava num mar de dúvidas, se sentia perdido por saber ter dúvidas, e não saber onde encontrar as respostas...

Já velho, preocupado com o fato de não saber nada, resolveu mudar de vida, quis recuperar todo o tempo perdido, despertou-se então a atenção para com os outros, quis ouvir o que as pessoas a sua volta lhe falava, quis saber de tudo que antes ignorara, só havia um problema em tudo isso, ninguém mais queria lhe contar, todos e tudo já haviam se afastado dele, também não era de se esperar que alguém continuasse ao seu lado...

Era véspera de sua morte, nem mesmo sabia o porquê de estar ali morrendo, nem mesmo se seria velado, nem mesmo saberia se alguém se lembraria do corpo. Não tinha medo, apenas dúvidas...

Pereceu, percebeu enfim, a burrice que cometera...