o militante 
 

Por volta de 1982 ingressei no PT, tinha uns treze anos de idade quando comecei a freqüentar o partido e assim iniciar minha vida partidária, me deparei com aquela ideologia pensada para ser um projeto político alternativo para o Brasil. Ainda não tinha uma noção clara do que vinha a ser marxismo e nem havia lido o Manifesto Comunista, mas fui tocado por aquelas palavras de ordem que traziam no seu bojo a justiça social, a igualdade e queríamos também dar um basta na ditadura. Lembro-me de um cartaz do partido onde se lia: PT um Partido em Construção. 


Fui para o partido levado pelas irmãs mais velhas católicas que, transmutaram do cristianismo de grupos de jovens para um cristianismo marxista, afinal o marxismo é uma espécie de cristianismo com justificativas científicas. A luta pela justiça, igualdade, defesa dos pobres e excluídos, há algo mais cristão? Só que com a promessa de um paraíso terreno, o socialismo. Logo comecei a freqüentar aquelas reuniões, a ouvir aqueles discursos, aqueles "companheiros" pra cá e "companheiros pra lá"; "questão de ordem companheiro!". Fui convidado para trabalhar na sede do partido. Uma salinha improvisada, uma mesinha e um telefone. Não fiquei muito tempo, logo fui demitido, por não atender as exigências profissionais da direção do partido, afinal era um garoto de quatorze anos sem muita responsabilidade com horários e o partido queria um "profissional".

Entretanto movido pelos "altos ideais", minha vida partidária continuava, virei um "tarefeiro", gostava de colar cartazes, ajudar na preparação de comícios, no esforço de divulgação, igualzinho a milhares de jovens como eu movidos por aquele idealismo ingênuo. Mas preferia essas tarefas àquelas discussões prolongadas que terminavam em disputas pelo poder. Gostava mesmo era da aventura de pichar muros e colar cartazes e ir para as carreatas. Chegamos até a formar um núcleo do partido no bairro.

Estávamos no fim da ditadura militar e o partido começava a despontar na mídia, e seus quadros já se tornavam conhecidos do público. Lembro-me daqueles slogans: "Trabalhador vota em trabalhador"; ou "PT: uma alternativa de poder". Essa cantilena soava bem aos ouvidos numa época em que as pessoas acreditavam em mudanças como de fato ocorreram, afinal o país a duras penas saía da longa noite de escuradão e o país enfim, voltava a ordem democrática. 
 
O fato é que o PT passou de um movimento num certo sentido revolucionário e até libertário para uma máquina eficiente que a cada dia se sofisticava. Crescia a sua importância política na medida em que aumentava sua musculatura eleitoral. Nas eleições de 1984 e de 1989,  PT obteve êxito nacionalmente, embora Lula não ouvesse ganho e aí surgem os oportunistas de plantão. Gente que via naquela sigla a possibilidade de ascensão social. Começou-se a formar cúpulas partidárias e as intermináveis lutas intestinas pelo poder interno, a diferenciação entre os que dirigem e a massa de filiados. Alguns quadros foram eleitos e adoraram o poder, os pavões começaram despontar. A essa altura já estava com 21 anos e perdia o interesse completo pela vida partidária, embora acreditasse ingenuamente que o Brasil um dia havia de mudar e o PT seria essa via de transformação.

Até a eleição de 1989 era bem digamos assim um "petista de carteirinha" nas minhas “falas” e nos meus pontos de vista sobre a sociedade e a política brasileira, embora tivesse me afastado da vida partidária, movido por outros interesses não mais partidários. Minha participação limitava-se a votar em alguns quadros do partido e acompanhar a cena política pelos jornais e TV ou de vez enquanto ir a algum comício. Na década de 90 ainda flertei com o PV chegando a me filiar a esta agremiação, participei do esforço de sua legalização, depois me desencantei por completo do mundo partidário, acho que os partidos não cabem em mim, e nem eu neles. Mas não sou um apolítico, continuo a crer na política como via de transformação de uma sociedade.   

Labareda
Enviado por Labareda em 06/01/2008
Reeditado em 14/06/2014
Código do texto: T805258
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