INCÊNDIO NO MOCÓ

Ao lado da casa de meu irmão, que mora à meia quadra na mesma rua em que moro, existe uma casa que está destinada a ser uma eterna tapera. Depois de algumas posses ilegais, ali foi morar um sujeito de estatura baixa, com um farto bigode, ao qual meu irmão alcunhou de “Titio”. O dito era muito estranho, pois vivia trancado na casa, sem relacionamentos com os vizinhos. A sua atividade, depois de algumas observações que fizemos, era a de vender figurinha de álbum, com a promessa de prêmios, só bugiganga do tipo brinquedinhos de plásticos, bolas e outras quinquilharias baratas. O dito, na verdade, era um aliciador de meninas menores, do interior, incautas, que no intuito de conseguir um emprego na cidade grande, vinham morar com o sujeito, o qual as colocava para vender os tais álbuns fajutos nos botecos das cidades afastadas da capital. Após alguns anos daquela vizinhança, meu irmão até chegou a se relacionar com o “Titio”, mas a relação não terminou bem. “Titio” não era trouxa, até pelo contrário, era um grande espertalhão. Chegou a possuir dentro de sua casa (mocó de bugiganga) duas mulheres e um filho, que dizia ser dele. Ai que inveja do “Titio”.

O sujeito, segundo os cometários da época, havia comprado a casa (mocó), financiada pelo SFH, do tipo arremate em leilão, tendo assumido as prestações bancárias, as quais, acho que pelo desfecho, que nunca as pagou. Ali o dito instalou um verdadeiro depósito de porcarias o que irritava por demais meu irmão, a ponto de ter me confessado que iria se mudar para outro local, pois a casa (mocó) era de alto risco de incêndio e de proliferação de ratos e insetos, tendo em vista que nos últimos tempos o “Titio” havia sumido com as esposas e não aparecia mais. Alguns carroceiros até rondavam a casa durante à noite para furtar o que ali havia ficado.

Meu irmão é fiscal federal e trabalha nas fronteiras, fato que o leva a viajar muito. Certa madrugada fui acordado pelos clamores de minha cunhada, pois a casa do “Titio” estava pegando fogo. Corri até lá com ela e ajudei a retirar da garagem a moto Harley Davidson de meu irmão (a sua joínha) que estava em eminência de ser incendiada pelo fogo no mocó do “Titio”. Vieram os bombeiros e acalmaram os ânimos no local. No outro dia a casa foi invadida pelos carroceiros que levaram o que restava do sinistro. “Titio” apareceu alguns dias depois e ficou brabo com a vizinhança que não cuidou do seu mocó. Após ficar esbravejando pelo pátio em meio aos escombros, ameaçava dizendo que iriam pagar pelo que não cuidaram para ele. A cena mais parecia a de um teatro dramático armado pela própria vítima.

“Titio” sumiu novamente, tendo vindo morar naqueles escombros, segundo dizem, um parente do tal baixinho invocado, que depois de alguns meses também foi embora. A casa continua lá, abandonada como sempre. Um verdadeiro esconderijo para vagabundos e carroceiros. O “Titio” nunca mais foi visto, mas comenta-se no bairro que o trouxa do baixinho tinha seguro da casa contra incêndio.

Por todas as histórias ocorridas com tal “Titio”, já imagino que deva estar morando a beira-mar (Garopaba ou Canasvieiras, quem sabe?) em Santa Catarina, numa boa casa comprada com a indenização do seguro contra incêndio do mocó, ao lado das suas duas esposas, ou quiçá com outras novas gatinhas, pois o dito gostava de se relacionar com mulheres com no máximo 20 anos de idade. O meu irmão, bem esse continua a conviver com a tapera abandonada ao lado de sua casa, até que o imóvel seja retomado pelo agente financeiro por inadimplência contumaz ou, quem sabe, apareça um novo “Titio” para nos brindar com uma outra história digna de filme.

Camponez Frota
Enviado por Camponez Frota em 17/01/2008
Reeditado em 27/05/2008
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